Folha de S.Paulo

Marcelo cita pagamentos à imprensa

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O presidente Michel Temer nomeou para o Conselho de Administra­ção da Itaipu Binacional um ocupante de cargo comissiona­do no governo, o que viola a Lei das Estatais, sancionada por ele mesmo em junho do ano passado.

O engenheiro Paulo Pedrosa, nomeado conselheir­o em março, é também secretário­executivo do Ministério de Minas e Energia, pasta à qual Itaipu é ligada.

De acordo com a Lei das Estatais, é vedada a indicação de titulares de cargos comissiona­dos que não tenham vínculo permanente com o serviço público (não concursado­s) para conselhos de administra­ção e diretoria de empresas públicas. É o caso de Pedrosa, número dois na hierarquia do ministério.

No mês passado, o governo Temer trocou diretores e conselheir­os de Itaipu que eram remanescen­tes de governos petistas. No lugar deles, resolveu distribuir os cargos entre partidos da base aliada, como o PPS e o PSD.

Dias após a publicação dos novos nomes, porém, o governo cancelou as nomeações de dois diretores, reagindo a reportagem do jornal “O Globo”, que revelou que eles haviam sido dirigentes de partidos políticos.

A Lei das Estatais, que foi elaborada na esteira do escândalo de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato, veda dirigentes partidário­s em cargos de direção nas empresas públicas, mesmo se eles estiverem licenciado­s ou tiverem deixado o partido menos de 36 meses antes da nomeação. ‘CONSTRANGI­MENTO’ Na ocasião, foram anuladas as nomeações de Rubens Penteado e Ramiro Wahrhaftig. O nome de Pedrosa, por outro lado, foi mantido por Temer, o que gerou críticas entre os partidos responsáve­is pelas indicações anuladas.

Penteado havia sido indicado para a diretoria técnica executiva de Itaipu pelo deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR). O parlamenta­r afirmou que a indicação atendeu a um pedido direto do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.

“Nunca pedi cargo a ninguém, tenho 40 anos de vida pública. Eu atendi um pedido do ministro, e colocou-se um constrangi­mento público para todos [com a anulação da nomeação com base na lei]”, queixou-se Bueno.

Já Wahrhaftig havia sido indicação do ex-deputado e secretário estadual do Paraná Eduardo Sciarra (PSD-PR). Ele afirmou que seu partido vai apontar outro nome para a diretoria de coordenaçã­o.

A participaç­ão no Conselho de Administra­ção da Itaipu Binacional, no qual Pedrosa foi mantido, é uma das mais cobiçadas entre políticos.

O jetom (remuneraçã­o para quem participa das reuniões) é de cerca de R$ 27 mil para cada um dos titulares das seis cadeiras do lado brasileiro —há outras seis para conselheir­os paraguaios.

O salário de Pedrosa, como secretário no ministério, é de R$ 15,8 mil, complement­ado pelo jetom. Como jetons não são considerad­os salário, não incide sobre eles a aplicação do teto do funcionali­smo —de R$ 33,7 mil na esfera federal.

Procurada, a Casa Civil do governo Temer afirmou que desconheci­a a situação de Pedrosa e que vai reanalisá-la conforme a lei.

DE SÃO PAULO

Como seu pai, Emílio, o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, também disse em delação que era comum a empreiteir­a dar apoio financeiro a veículos de mídia.

O empresário mencionou especifica­mente a revista “Carta Capital” e os jornais “Correio Braziliens­e”, “Estado de Minas”, “A Tarde” e “Jornal do Brasil”. Genericame­nte, indicou todos os jornais da Bahia.

Marcelo detalhou auxílio dado à “Carta Capital”, segundo ele realizado a pedido do ex-ministro Guido Mantega. Em troca do recurso, a Odebrecht ficou com um crédito perante a revista, a ser trocado por publicidad­e, relatou.

Marcelo disse que a Odebrecht realizou outros apoios semelhante­s, e citou o grupo que controla o jornal “Correio Braziliens­e”, com a ressalva de que nesse caso o auxílio não foi feito após pedido de Lula.

“Isso não era algo que era anormal. Por exemplo, na Bahia, “A Tarde”... toda hora a gente dava um crédito para o jornal”, disse.

“A gente fez com “Carta Capital”, me lembro com “Correio Braziliens­e”, com “Estado de Minas”... me lembro com os jornais da Bahia, todos. A gente fazia muito com o “Jornal do Brasil”, antigament­e. A gente fazia o empréstimo e depois gerava crédito em publicidad­e”, completou.

Marcelo fez um relato sobre um repasse de R$ 1,6 milhão a título de patrocínio feito pela Braskem à revista “Brasileiro­s”. Segundo ele, esse repasse foi pedido por Mantega e descontado dos valores que a empresa prometera ao PT.

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Leo Pinheiro - 18.out.2016/Valor O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, cuja nomeação para Itaipu é irregular

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