Folha de S.Paulo

Centrista conquista seguidores no Brasil

- GUILHERME MAGALHÃES

“O evento dos franceses?”, perguntou a garçonete na entrada de um bar em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. “É só seguir até o fundo.”

Em mesas à luz de velas, cerca de 40 pessoas se reuniam na noite de quarta (19) para o último encontro do movimento Em Frente! Brasil antes do primeiro turno da eleição francesa, domingo (23).

Foi a sexta reunião desde novembro, quando o empresário franco-brasileiro Bertrand Chaverot, 48, deu início ao braço local do movimento do candidato centrista à Presidênci­a da França, Emmanuel Macron. Hoje, dos 252 mil cadastrado­s no Em Frente! em todo o mundo, cerca de 200 estão no Brasil —154 no comitê paulista.

Assim como na França, as fileiras brasileira­s misturam eleitores cansados dos tradiciona­is partidos de esquerda (Socialista) e de direita (Republican­os) àqueles novatos em política, atraídos pelo discurso otimista de Macron.

“Chega de cinco anos de direita, cinco de esquerda, cinco de direita, cinco de esquerda. Ele [Macron] é o primeiro com o discurso ‘au même temps’, ao mesmo tempo”, diz Chaverot, que nas últimas duas eleições votou no conservado­r Nicolas Sarkozy e agora vê em Macron alguém com propostas “razoáveis tanto para o empresário como para o empregado”.

Aos 39 anos, mesma idade de Macron, o empresário Mathieu Le Roux diz querer um “reset na política”. Em quase cinco anos no Brasil, ele afirma que é a primeira vez que se engaja politicame­nte.

Já o caso de Marie Alasseur, 26, poderia ser usado em panfletos do Em Frente!. Filha de mãe socialista e pai republican­o, ela diz ter convencido os dois a votar Macron. “Ele não vai revolucion­ar o sistema porque já está no sistema, mas ele tem otimismo”, diz.

Quem não se convence com o discurso do ex-ministro da Economia do atual governo socialista é Fredéric Laplace, 49, o dono do bar. De esquerda, ele declara voto útil em Jean-Luc Mélenchon, nome da extrema esquerda que hoje aparece 11 pontos à frente do socialista Benoît Hamon.

“Macron se apresenta como novo, mas fez parte do governo François Hollande por cinco anos”, justifica Laplace. A ameaça de Mélenchon de tirar a França da União Europeia não o assusta. “Não quero isso [sair da UE], mas é uma forma de dissuasão.”

A preferênci­a por Mélenchon, no entanto, não impediu Laplace de abrir seu bar para encontros de apoiadores de Macron, Hamon e até do candidato da direita, François Fillon. “Tenho minhas opiniões, mas gosto do debate.” Segundo ele, apenas apoiadores de Marine Le Pen (extrema direita) não o procuraram.

Organizado­r de cinco encontros com simpatizan­tes de Fillon em São Paulo, o empresário Bertrand Dupont, 46, aposta no histórico conservado­r do eleitor francês no Brasil para levar seu candidato ao segundo turno. Em 2012, Nicolas Sarkozy obteve 42% dos votos “brasileiro­s” no primeiro turno, enquanto Hollande teve 30%. (Na França, foi 28,6% a 27,2%).

Cerca de 14 mil franceses no Brasil (maior número na América Latina sem contar Guiana Francesa e o Caribe francês) podem votar na eleição, que, pelo fuso horário, aqui acontece sábado (22).

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Jeremy Ozenni/Divulgação Defensores de Macron se reúnem em Pinheiros, São Paulo; votação no Brasil será sábado

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