Perda de mais 64 mil vagas mostra lentidão na retomada do emprego
Após saldo positivo em fevereiro, mercado de trabalho volta a apresentar resultado negativo
Destruição de postos de trabalho é menor neste ano, mas faltam sinais mais claros de reação da atividade econômica
O emprego com carteira assinada decepcionou em março. Após o resultado positivo de fevereiro, com a criação de 36 mil vagas formais, a expectativa de uma recuperação mais rápida do mercado de trabalho havia tomado conta do governo e de parte dos analistas econômicos.
Em março, porém, os números voltaram ao negativo. Foram eliminados 63.624 postos, o que confirma a perspectiva de que a recuperação do emprego só deve ocorrer após sinais mais claros de retomada da economia.
Ao apresentar os números, o ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho) tentou dissipar a visível frustração com o resultado negativo. Começou a apresentação dos dados comparando o saldo de vagas no primeiro trimestre deste ano com os do mesmo período do ano passado.
Nessa comparação, o resultado mostra um avanço. Dos 303 mil empregos destruídos no ano passado, a eliminação de empregos passou a 64 mil neste início de ano.
“Em que pesem os números de março negativos, comparando o mesmo período, o Brasil reduz a perda de emprego. É uma redução significativa”, disse Nogueira.
O resultado de fevereiro chegou a ser comemorado pelo presidente Michel Temer, que fez questão de divulgá-lo na época como prova de que o pior da recessão passou.
Mas a análise do resultado de março é bastante negativa. Excluídos os efeitos típicos do mês, o ritmo de destruição de vagas voltou ao patamar de janeiro, ou seja, antes do veranico de fevereiro.
A abertura dos números tampouco é animadora. Dos oito setores de atividade econômica monitorados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em sete houve retração. SETOR PÚBLICO Só a administração pública exibiu saldo positivo, impulsionada pela contratação de professores para o ano letivo. Apenas no Estado de São Paulo, foram 2.756 novos empregos formais.
No setor de serviços, que emprega 44% dos trabalhadores com carteira assinada, a retração no mês foi de 17 mil vagas. No comércio, que responde por outros 23% dos trabalhadores, foram perdidos quase 34 mil postos.
Nogueira, porém, minimizou a má notícia, afirmando que março é normalmente um mês em que restaurantes e hotéis dispensam funcionários após o período de férias. E que uma recuperação poderia voltar a aparecer nos dados de abril, a partir da maior confiança de empresários para contratar e da circulação de mais dinheiro na economia, com os saques das contas inativas do FGTS.
“Vamos recuperar os dados positivos de emprego”, disse Nogueira. “Não houve uma frustração, a expectativa positiva se mantém. Os números negativos de março foram metade
RONALDO NOGUEIRA
ministro do Trabalho dos números negativos de março do ano passado.”
Analistas do mercado financeiro esperam que a recuperação do emprego possa começar a ocorrer no segundo trimestre deste ano. Mas o desemprego só pararia de subir no segundo semestre.
Para Bruno Ottoni, analista da FGV, o emprego só deve começar a voltar em agosto, com a indústria contratando trabalhadores para a produção de olho no Natal.
Ainda assim, ressalta ele, o resultado anual de empregos formais ainda será de retração, dada a natureza da recuperação da economia.
“O desenho deste ano é mais de estabilização do que de recuperação e isso faz com que a expansão não seja espalhada por todos os setores, mas que apresente variações ora positivas ora negativas.”
O esperado efeito da Operação Carne Fraca sobre empregos do setor não apareceu nos dados, disse o ministério.
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Em que pesem os números de março negativos, comparando o mesmo período, o Brasil reduz a perda de emprego. É uma redução significativa