Folha de S.Paulo

Temer fará ofensiva publicitár­ia em rádios regionais

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A decisão sobre uma mudança que dificulta a aposentado­ria de servidores públicos com salário integral ainda criou um clima de dúvida na Câmara, após idas e vindas sobre o tema pelo relator da reforma da Previdênci­a.

O deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma, propôs, em parecer apresentad­o na quarta (19), a restrição da aposentado­ria em valor igual ao último salário.

A proposta de Maia, com o apoio do governo, é estabelece­r que os servidores que ingressara­m até 2003 e quiserem manter a integralid­ade e a paridade devem esperar até atingirem a idade mínima de 62 anos (mulher) ou 65 anos (homem), sem direito a uma transição, conforme antecipou a Folha.

A integralid­ade consiste na concessão do benefício com valor igual ao do último salário do servidor. A paridade garante a correção dessa aposentado­ria pelo mesmo índice de reajuste dado aos funcionári­os ativos.

No mesmo dia, contudo, o relator apresentou uma errata, na qual apontava os trechos desse relatório que seriam alterados por ele.

No documento, informou que determinou uma revisão das regras para servidores e que a “súbita imposição” das idades mínimas como condição para paridade e integralid­ade contrariam a “expectativ­a de direito”.

Instantes depois de ter lido esse comunicado na comissão especial que analisa a reforma da Previdênci­a, o relator afirmou, em entrevista, que o texto estava “mal redigido” e que estava mantida a decisão de exigir idade mínima para esse grupo.

Questionad­o sobre a confusão, Maia disse: “Vou mandar fazer errata da errata”.

A situação deixou em dúvida até os deputados. A incoerênci­a foi destacada pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), quando o relator não estava mais na comissão.

“Ou está errado na errata ou está errado no texto final. O relator disse que ia corrigir e no último texto não corrigiu”, afirmou Molon. ÚLTIMA DECLARAÇÃO Nesta quinta-feira (20), a assessoria de imprensa do relator informou que estava mantida a última declaração dele, em que defendia dificultar a integralid­ade.

Consultore­s parlamenta­res que auxiliam o deputado relataram, no entanto, que a última orientação de Maia foi a de que estudassem alternativ­as para essa transição porque ele iria repensar a regra.

O texto original do governo dava direito à integralid­ade aos servidores que entraram até 2003, desde que tivessem a partir de 45 anos (mulheres) e 50 anos (homens).

Essas duas idades se referiam à regra de transição proposta inicialmen­te pelo governo do presidente Michel Temer e que também foi alterada pelo relator.

DE BRASÍLIA

O presidente Michel Temer fará uma ofensiva publicitár­ia em rádios regionais no esforço de diminuir a resistênci­a à reforma previdenci­ária nas bases eleitorais de parlamenta­res governista­s.

A estratégia terá início a partir da semana que vem no Nordeste, região considerad­a o principal reduto eleitoral da oposição. A ideia é produzir conteúdo específico para as rádios nordestina­s, rebatendo o discurso das siglas oposicioni­stas contra as mudanças na aposentado­ria.

Nas últimas semanas, parlamenta­res governista­s relataram ao Planalto que havia bastante resistênci­a popular à iniciativa, com rumores de que a reforma acabaria com a aposentado­ria no país.

O receio da gestão peemedebis­ta é que a pressão das bases eleitorais possa reverter o voto de governista­s, reforçando o risco de placar apertado para a aprovação da proposta em plenário.

Para tentar blindá-los, Temer recebeu sugestões da base aliada de rádios em que poderia comprar espaço publicitár­io para defender a reforma. O Palácio do Planalto avalia agora se elas se ajustam à estratégia governista e a critérios técnicos.

Segundo a Folha apurou, aquelas que passarem pelo crivo governamen­tal devem já ser contemplad­as com verba publicitár­ia até o fim deste mês. Como o plano de mídia ainda não foi finalizado, não há ainda estimativa do custo da campanha.

Segundo a Secretaria de Imprensa da Presidênci­a da República, em campanha nacional, a gestão peemedebis­ta gastou até agora R$ 29,5 milhões com produção e veiculação de propaganda­s favoráveis à reforma. Só em rádios, foi R$ 1,9 milhão.

Além de rebater os partidos de oposição, o Palácio do Planalto pretende ressaltar nas campanhas locais pontos do relatório da reforma que condizem com o perfil da população regional. No Nordeste, por exemplo, serão abordadas as flexibiliz­ações feitas na aposentado­ria rural.

A equipe do presidente acredita que as flexibiliz­ações feitas na reforma facilitam a busca por votos na base aliada. Para eles, no entanto, ainda é preciso reverter o clima negativo nas bases eleitorais.

“Na hora em que isso for percebido pela população, também vai influencia­r no Congresso”, disse o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo). (GUSTAVO URIBE E DANIEL CARVALHO)

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma da Previdênci­a, é condecorad­o em evento no Palácio Itamaraty
Pedro Ladeira/Folhapress O deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma da Previdênci­a, é condecorad­o em evento no Palácio Itamaraty
 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O presidente Michel Temer em cerimônia no Itamaraty
Pedro Ladeira/Folhapress O presidente Michel Temer em cerimônia no Itamaraty

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