Folha de S.Paulo

FOLHA TRANSPARÊN­CIA Minhocão tem explosão de furtos e roubos

De 2015 para 2016, crimes desse tipo sobre o elevado no centro de São Paulo tiveram alta de 273%, de 15 para 56

- ARTUR RODRIGUES FABRÍCIO LOBEL

Principal avanço no ano passado se deu no período em que a via está fechada aos carros, entre 21h30 e 6h30

O professor de filosofia Fabrício Muriana, 32, andava de bicicleta pelo Minhocão, no retorno para casa ao lado da namorada, após um show no Sesc Pompeia, na zona oeste.

Naquela noite, o casal acabou sob a mira de uma arma e ficou sem as bicicletas e todos os outros pertences.

Crimes como esse, ocorrido numa madrugada de agosto do ano passado, se repetem cada vez mais no elevado recentemen­te rebatizado de presidente João Goulart.

Os furtos e roubos na região do Minhocão (incluindo a parte debaixo da via) passaram de 100 para 190, na comparação de 2015 com 2016, um aumento de 90%, mostram números obtidos pela Folha via Lei de Acesso à Informação. Se considerar­mos apenas os crimes que acontecera­m sobre o elevado, uma alta ainda maior: passaram de 15 para 56 (273%).

Neste tipo de crime, porém, há grande índice de subnotific­ação, dizem especialis­tas. Ainda assim, os números ajudam a revelar que o principal avanço se deu no período em que a via está fechada para carros, entre 21h30 e 6h30.

Para efeito de comparação, em 2015, crimes cometidos nessa faixa horária representa­vam 13% do universo do elevado. Já em 2016, esse número saltou para 36% —o percentual pode ser maior devido à falta de horário em alguns boletins de ocorrência.

Desde que o local virou oficialmen­te parque, com a sanção por Fernando Haddad (PT) de lei neste sentido, gerou-se um jogo de empurra sobre a responsabi­lidade pela segurança sobre o elevado.

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) diz que, por ser um parque da cidade, quem deveria fazer a prevenção é a GCM (Guarda Civil Metropolit­ana). Já a gestão municipal de João Doria (PSDB) diz que ações de policiamen­to ostensivo cabem à polícia, vinculada ao governo estadual (leia texto nesta página).

Enquanto o poder público não age coordenada­mente, os criminosos se aproveitam da falta de policiamen­to.

Não havia sinal das autoridade­s quando Fabricio Muriana e sua namorada foram abordados por duas pessoas, também em bicicletas.

“Eles alcançaram a gente, emparelhar­am, mostraram a arma e mandaram parar. Levaram meu celular, nossas bicicletas e abandonara­m as bicicletas velhas deles com a gente.” Após o roubo, Muriana diz não se sentir mais seguro para pedalar à noite pela região.

Crimes como esse continuara­m a acontecer. No mês passado, foi a vez da jornalista Maria Teresa Cruz, 31.

Ela pedalava de volta para casa sobre o Minhocão quando foi intercepta­da por um homem a pé, que roubou sua bicicleta. “Levei um soco na cara, vários chutes já caída no chão”, escreveu em seu perfil nas redes sociais.

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