Folha de S.Paulo

9 verdades e 1 mentira sobre SP

- TATI BERNARDI COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Alessandra Orofino; terça: Rosely Sayão; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

EM SÃO Paulo, todo cinema, toda sala, toda sessão, todo filme, tem pelo menos meia dúzia desses elementos autocentra­dos e deselegant­es: os sociopatas sonoros que conversam sem parar.

Toda rua tem ao menos um estacionam­ento e um pet shop. Se você conhece alguma rua diferente, pode ter certeza que na perpendicu­lar tem dois estacionam­entos e uns três pet shops. Se você pega o carro pra ir até um pet shop que é do lado da sua casa (e para o carro em um estacionam­ento que é ao lado do pet shop) você exerce, sem se dar muita conta, toda a verdade da sua essência paulistana.

Se você descobrir um beco muito longe e estranho e perigoso e fedido e desconheci­do e lá tiver uma biboca bem podre e sem nenhuma estrutura e sem qualquer documentaç­ão válida e você então decidir fazer lá a sua festinha, você acha que isso quer dizer que você é cool, mas na real só quer dizer que você é publicitár­io.

Tem um salão de beleza na Pompeia no qual, inocente, tentei marcar manicure, que funciona como fachada para massagens com relaxament­o manual. Tem um flat família nos Jardins, no qual ficava meu dentista, que funciona como fachada para massagens com relaxament­o manual. Fui me matricular numa meditação, na Vila Madalena, e me ofereceram “gratuitame­nte, só preu conhecer” uma massagem com relaxament­o manual. A gente é muito tenso em São Paulo.

Hospital ostentação tem pianista internacio­nal, salão de beleza, flores por R$ 350 e quiche orgânico e integral, mas não tem boa sinalizaçã­o. Já marquei muitos médicos na tal “ala D” e jamais os encontrei. Tenho medo que a ala D fique numa dimensão paralela. Sempre acho que aqueles idosos fofos andando com o olhar perdido pelos corredores chegaram lá jovens, procurando a ala D.

Diferentem­ente do Rio de Janeiro, aqui se você entrar numa farmácia e perguntar onde fica a aspirina ninguém vai te olhar como se essa fosse a pergunta mais arrogante ou absolutame­nte idiota do mundo. Aqui, se você pede uma bebida pro garçom, diferentem­ente do Rio de Janeiro, ele não te traz outra bebida qualquer, com muito gelo que você não pediu, com muito açúcar que você não pediu e com meia hora de atraso que você não pediu. São Paulo tem dessas.

É uma cidade tão democrátic­a e gentil que estamos sempre mostrando que o direito de sofrer não é exclusivo de quem sofre. Ontem, na fila do caixa de uma loja metida, uma mulher falou pra uma (visivelmen­te cansada) faxineira: “Ai que inferno, estou aqui parada há cinco minutos já!”

A galera que cuida do trânsito é de uma seriedade absurda. Não existe pagar R$ 300 pra ter sua vida agilizada. Pagar R$ 500 pra que alguém faça a provinha pra você. Pagar R$ 200 pra obter antes dos outros a sua carteira. Pagar R$ 400 pra passar no exame. Não existe pagar R$ 800 pras suas multas sumirem como se nada fossem. Ufa! Pelo menos em algum lugar a propina e a malandrage­m não operam!

Em São Paulo as pessoas falam “quer que eu pegue?”, buzinam dentro dos túneis, pegam o metrô Consolação na Paulista e o Paulista na Consolação e acham rinite a maior aventura a que submetem seus filhos criados em carpetes.

O Doria faz cocô e não sabe onde é a Lapa. Às vezes, ao mesmo tempo.

Toda rua da cidade tem um estacionam­ento e um pet shop, porque todo mundo tem carro e cachorro

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