Folha de S.Paulo

Ganso O NÃO VOO DE

De virtual camisa 10 da seleção, Paulo Henrique Ganso amarga condição de peça figurativa no

- ALEX SABINO

No início deste ano, Paulo Henrique Ganso, 27, entrou na sala do técnico do Sevilla (ESP), o argentino Jorge Sampaoli. Foi lá questionar o motivo para não ser escalado. Ele havia sido comprado por R$ 34 milhões em julho de 2016 e passava mais tempo no banco do que em campo.

Sampaoli ficou tão contrariad­o com a cobrança que passou a nem sequer relacioná-lo para as partidas.

Não deveria ser assim. Ganso sonhou por anos com essa transferên­cia. Esperou a proposta certa. O Sevilla não está no patamar de Barcelona e Real Madrid, mas é um time de porte, atual tricampeão da Liga Europa.

Poderia ser a plataforma para o brasileiro partir em seguida para um gigante do continente e, principalm­ente, voltar à seleção brasileira. Até agora, deu tudo errado.

Dos 48 jogos que o Sevilla fez na temporada, Ganso participou de 12. Foi titular oito vezes. Só em três partidas atuou os 90 minutos: no empate em 1 a 1 com o Eibar, pelo Espanhol, e nos jogos de ida e volta da Copa do Rei contra o Formentera, da quarta divisão da Espanha, quando marcou seu único gol pelo clube.

A Folha apurou com pessoas próximas ao jogador que ele fica no Sevilla somente se Sampaoli for embora.

O técnico é o favorito para assumir a seleção argentina. Se continuar, Ganso será emprestado e já fez o pedido para a diretoria do clube.

O meia não joga desde 4 de janeiro, quando foi titular contra o Real Madrid e acabou sendo substituíd­o no intervalo. O Sevilla disputou 19 partidas desde então.

O brasileiro foi reserva não utilizado em seis delas. Nas outras 13, ficou em casa.

Ele teve problemas para se adaptar ao esquema tático de Sampaoli, um treinador fiel à ideia de jogo vertical de Marcelo Bielsa, considerad­o o guru de nove em cada dez técnicos argentinos.

Ao negociar com o Sevilla, o brasileiro ouviu a ideia de que seu novo chefe gostava de dar liberdade aos atletas. Que eles jogassem da mesma forma que faziam quando eram crianças, nas ruas. Isso era música para os ouvidos de Paulo Henrique Ganso.

Na realidade, Sampaoli é exigente. Todos defendem, todos atacam e com intensidad­e, por 90 minutos. Essa não é a caracterís­tica de Ganso, meia cerebral, mas lento, que precisa ter a bola nos pés o tempo todo para aparecer.

Para o estafe do jogador, ele é levado no limite por Sampaoli, que deseja vê-lo

Surpreende pela qualidade dele. Um jogador como o Paulo não jogar... Mas a gente não sabe o que se passa. Não sabe se é problema com o treinador. É estranho

DORIVAL JÚNIOR

Técnico do Santos, trabalhou com Ganso em 2010

MURICY RAMALHO

Trabalhou com o meia no Santos entre 2011 e 2013 e no São Paulo entre 2013 e 2015 explodir em um ato de indiscipli­na para justificar uma dispensa. Os críticos, porém, têm opinião diferente.

Na mídia espanhola, não há quem veja uma perseguiçã­o do técnico argentino ao jogador. Por outro lado, são recorrente­s as constataçõ­es dos jornalista­s esportivos de que o meia brasileiro mostra uma aparente falta de disposição dentro de campo.

As críticas são semelhante­s às feitas pela imprensa brasileira na época em que o jogador atuava no país. POR QUÊ? A situação de Ganso chama a atenção dos técnicos que trabalhara­m com ele no futebol brasileiro.

“Não quero opinar. Seria falta de respeito”, se limitou a dizer Mano Menezes. Ele foi o treinador que, em setembro de 2010, profetizou que Paulo Henrique Ganso seria o dono da camisa 10 da seleção por muitos anos.

Na época, o jogador se recuperava de uma cirurgia no joelho esquerdo.

“Surpreende pela qualidade dele. Um jogador como o Paulo [Henrique Ganso] não jogar. Mas a gente não sabe o que se passa. Não sabe se é problema com o treinador. É estranho”, opina Dorival Júnior, treinador que catapultou o meia ao estrelato no Santos campeão paulista e da Copa do Brasil de 2010.

Enquanto estava na Vila Belmiro, entre 2008 e 2012, Ganso cavou uma transferên­cia para a Europa. As propostas não chegaram. Pelo menos não em um valor que interessas­se à diretoria do clube. Isso aconteceu com o Porto (POR), Juventus (ITA) e Inter de Milão (ITA).

A ida para o Sevilla foi um sonho que se realizou. Mas somente a transferên­cia. O que veio depois, não.

“Lá fora as pessoas não têm muita paciência com jogadores brasileiro­s. Acho que o Ganso sofre um pouco com a questão de adaptação”, afirma Muricy Ramalho, campeão da Libertador­es de 2011 com o meia na equipe titular.

“Ele também precisa entender melhor como é o futebol da Espanha. O Ganso é um menino tímido e isso atrapalha. Mas ele tem de ser utilizado. Senão, por que o contratara­m?”, complement­a.

De craque e camisa 10 da seleção, Ganso passou a peça indesejada em sete anos. Uma amarga confirmaçã­o da profecia feita pelo holandês Seedorf, então meia do Botafogo, em 2013, quando questionad­o sobre o estilo clássico do brasileiro em campo.

“Ganso tem muito talento. Para mim, ele anda um pouco devagar em campo e com esse ritmo não vai dar [certo] na Europa”, disse ao SporTV.

Acho que o Ganso sofre um pouco com a questão de adaptação. Ele também precisa entender melhor como é o futebol na Espanha. O Ganso é um menino tímido e isso atrapalha. Mas ele tem de ser utilizado. Senão, por que o contratara­m

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