Folha de S.Paulo

Ainda em queda

Emprego formal volta a cair em março, em ritmo mais brando; mercado de trabalho reage de forma lenta ao início de recuperaçã­o da economia

- VARIAÇÃO DO EMPREGO FORMAL

Se no mês passado tratou de divulgar pessoalmen­te a criação de 36 mil empregos com carteira assinada em fevereiro, desta vez o presidente Michel Temer (PMDB) achou por bem ausentar-se do anúncio do fechamento de 64 mil vagas no país em março.

Foi precipitad­o, sem dúvida, considerar que o primeiro resultado já se afigurava como sinal inequívoco da retomada da economia. Mas tampouco existe motivo para concluir o oposto agora.

O mais moroso dos mercados, o de trabalho, costuma reagir com atraso às tendências de melhora ou piora da confiança de empresário­s e consumidor­es. Logo que o país entrou em recessão, em 2014, o desemprego manteve-se baixo; as demissões só ganharam impulso no ano seguinte.

Neste momento, embora os dados ainda mostrem grande dose de fragilidad­e, a tendência já se revela menos negativa. A perda de postos no primeiro trimestre, praticamen­te igual à de março, foi bem menor que a de 319 mil no período correspond­ente de 2016.

O contraste é ainda mais evidente ao se observar o comportame­nto dos últimos 12 meses, quando o número de celetistas encolheu de 39,3 milhões para 38,3 milhões, queda de 3,8% —neste ano, a redução limita-se a 0,2%. Nº de celetistas, em milhões 41,8

A trajetória de fechamento de vagas pode encerrar-se em breve, mas as contrataçõ­es provavelme­nte demorarão a prevalecer. Dados os custos para admitir, treinar e demitir mão de obra, as empresas só alteram suas folhas de pagamento em larga escala quando a direção de seus negócios é clara.

No cenário atual, ademais, há espaço para produzir mais com o mesmo quadro de pessoal. Enquanto isso, o desemprego permanecer­á alto, na casa dos 13%.

Por outro lado, as condições que antecedem a recuperaçã­o econômica já estão dadas. A renda do trabalho estabiliza-se; o recuo da inflação favorece o poder de compra; famílias reduzem suas dívidas.

Lançam-se, assim, os alicerces para o aumento do consumo das famílias, que partirá da parcela majoritári­a da população que se mantém empregada. Para tanto, a confiança —crescente, mas ainda sujeita às intempérie­s do mundo político— terá papel crucial.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil