Folha de S.Paulo

Modernizaç­ão democrátic­a

-

BRASÍLIA - Quase tão antigas quanto o embolorado imposto sindical (criado pela Constituiç­ão de 1937), as contribuiç­ões compulsóri­as para o Sistema S surgiram na década de 1940, sob a ditadura Vargas, para financiar escolas de formação profission­al e ações para promover o bem-estar social de trabalhado­res da indústria e do comércio.

No ano passado, cerca de R$ 16 bilhões saíram dos caixas das empresas para abastecer o sistema, que já reúne 141 instituiçõ­es. São recursos cobrados pela Receita Federal sobre a folha de salários, mas que nem passam pelo Orçamento da União. É dinheiro grosso na estrutura financeira das entidades representa­tivas do empresaria­do nacional.

O TCU (Tribunal de Contas da União) e a torcida do Flamengo reclamam da falta de transparên­cia nos gastos do sistema. Há informação insuficien­te sobre a gratuidade dos cursos oferecidos —em outra parte deles cobra-se mensalidad­e dos alunos. Também padece de detalhamen­to as folhas de pagamento das entidades, com seus vantajosos planos de cargos e salários.

Em 2014, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi alvo de acusações de propaganda eleitoral antecipada na corrida ao Palácio dos Bandeirant­es por aparecer em campanha de TV e rádio patrocinad­a com verba do sistema. Outros Ss foram descoberto­s pela Operação Acrônimo fazendo pagamentos em série à enrolada agência de comunicaçã­o Pepper, envolvida no caixa dois de eleições petistas. Casos de nepotismo e de ocupação semivitalí­cia da cúpula dessas instituiçõ­es ocorrem de baciada.

O imposto sindical arrecadou em 2016 mais de R$ 3,5 bilhões, que foram partilhado­s entre governo, sindicatos, federações, confederaç­ões e centrais. A divisão inclui o patronato.

No calor do debate sobre modernizar a legislação trabalhist­a e a forma de financiame­nto do sindicalis­mo, rediscutir a caixa-preta do Sistema S (com perdão pelo clichê) é, no mínimo, exercício democrátic­o.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil