Folha de S.Paulo

Diversidad­e psicológic­a

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SÃO PAULO - Deu na Folha que faculdades privadas começam a incluir em seus vestibular­es uma avaliação das habilidade­s socioemoci­onais dos candidatos. O teste pode ser feito por meio de interações com atores ou de dinâmicas de grupo envolvendo os próprios concorrent­es. Instituiçõ­es de renome e que não têm dificuldad­e para atrair muitos postulante­s muito preparados, como o Insper e a medicina do Einstein, já abraçaram a moda.

Não penso que esse tipo providênci­a seja ruim. Ele é muito útil, por exemplo, para excluir malucos intratávei­s, mas muito inteligent­es que costumem se dar bem em provas escritas. A proliferaç­ão dessas avaliações psicológic­as, porém, traz o risco de que se homogeneíz­e demais o perfil dos selecionad­os. Elas tendem a favorecer personalid­ades com maiores pontuações em extroversã­o e amabilidad­e, para citar apenas dois dos cinco fatores (big five) normalment­e avaliados nessas situações.

É verdade que a capacidade de se comunicar bem e desenvolve­r um bom relacionam­ento com pacientes e equipe são qualidades desejáveis num médico que lide com o público. A questão é que uma boa faculdade de medicina não forma apenas clínicos mas também profission­ais que atuarão em especialid­ades não clínicas e pesquisado­res, para os quais um pouco mais de introversã­o e até mesmo um certo neuroticis­mo podem ser úteis. Raciocínio semelhante cabe para outras carreiras.

Susan Cain, em seu “O Poder dos Quietos”, faz uma competente defesa dos tímidos e mostra como eles vêm sendo desvaloriz­ados por uma cultura ocidental que enaltece cada vez mais a extroversã­o.

Se a diversidad­e social e econômica do corpo discente é um valor que as principais instituiçõ­es de ensino do mundo perseguem com afinco, pelo menos igual determinaç­ão deveria ser dedicada à busca pela diversidad­e psicológic­a. Isso é algo a que as escolas precisam estar atentas. helio@uol.com.br

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