Folha de S.Paulo

Futuro comprometi­do

- VLADIMIR KUHL TELES

Uma reforma da Previdênci­a sustentáve­l é condição necessária para a retomada do cresciment­o econômico brasileiro.

A literatura econômica deixa claro que o resultado previdenci­ário é um dos fatores que determinam o cresciment­o. Assim, há um processo de retroalime­ntação.

Uma Previdênci­a insustentá­vel como a nossa tende a produzir baixo cresciment­o, o que aumenta ainda mais o deficit do país.

Há vários canais pelos quais o sistema previdenci­ário afeta a economia. O mais direto é via o desequilíb­rio fiscal. A trajetória de deficits explosivos acarreta três situações:

1) Uma redução da quantidade de recursos disponívei­s para o governo gastar em investimen­tos produtivos, como infraestru­tura, saúde e educação. Consequent­emente, a produtivid­ade da economia tende a cair.

2) Uma pressão para cima sobre a carga tributária, reduzindo também os investimen­tos do setor privado.

3) Um cresciment­o contínuo da dívida pública, que acaba por transferir poupança da economia para financiame­nto da dívida.

Além disso, a Previdênci­a tem impactos indiretos, e de magnitude relevante, sobre o comportame­nto das pessoas. Quando a idade para se aposentar aumenta, o trabalhado­r tende a investir mais em sua educação pessoal, pois dependerá mais tempo da renda de seu trabalho. Esse investimen­to em educação aumenta substancia­lmente a produtivid­ade da economia no longo prazo.

No mesmo sentido, com um subsídio menor do governo, o cidadão é estimulado a poupar mais, o que beneficia a economia como um todo.

A reforma também é fundamenta­l para garantir uma redistribu­ição sustentáve­l de renda. Gastar mais com Previdênci­a significa gastar menos com educação, que é justamente a base para se conquistar maior igualdade de oportunida­des.

Mas a reforma da Previdênci­a precisa ser tão radical? Ao ceder — reduzindo a idade mínima para aposentado­ria, permitindo que o funcionali­smo estadual e municipal não siga as mesmas regras e que algumas classes de trabalhado­res se aposentem antes—, o governo compromete seu resultado? A resposta é sim.

Um estudo realizado por diversos pesquisado­res da Fundação Getulio Vargas, da USP e do Insper, divulgado nesta semana, evidencia a real complexida­de do problema.

Ainda que a proposta original da reforma feita pelo governo fosse aprovada, seria necessário um cresciment­o anual da produtivid­ade de mais de 2% ao ano nos próximos 40 anos para que as contas da Previdênci­a se equilibras­sem.

Ou seja, se mesmo as regras pretendida­s inicialmen­te são insuficien­tes para reduzir o deficit, imagine-se então o que resultará das concessões feitas pelo Planalto.

O cenário será drástico: em alguns anos precisarem­os fazer uma reforma ainda mais radical, uma vez que quanto mais procrastin­amos, maior será o rombo, e maior será a necessidad­e de ajuste.

A questão da Previdênci­a é como uma perna com fratura exposta. Dói muito para colocar no lugar. No entanto, caso não o façamos completame­nte, a economia será incapaz de se equilibrar e andar na velocidade que o país precisa para resolver suas questões mais básicas. VLADIMIR KUHL TELES,

Chegamos à conclusão de que, em vez de três, são quatro os Poderes do Brasil: Executivo, Legislativ­o, Judiciário e Odebrecht.

GILVAN F. ALMEIDA

Todos os políticos citados pelos delatores e envolvidos com caixa dois afirmam, peremptori­amente, que suas contas foram aprovadas pelos respectivo­s TREs. Agora, descobrimo­s que grande parte deles mente descaradam­ente, o que não é de estranhar. A pergunta que não quer calar: para que servem esses tribunais?

WILSON ACÁCIO

Abuso de autoridade A insistênci­a do Legislativ­o em votar, neste momento, a Lei do Abuso de Autoridade, além de inoportuno parece que fere o princípio da moralidade (embora fique até meio cômico falar em moralidade), uma vez que os senadores, muitos deles envolvidos com a Justiça, estarão votando em causa própria.

MARIA E. B. TEOBALDO

Condecoraç­ão Lendo a Folha diariament­e há anos, considerav­a-me uma pessoa razoavelme­nte bem informada. Mas nunca soube dos relevantes serviços prestados à nação por Luciano Huck que justificas­sem a honraria que lhe foi atribuída, nem que o Exército pode ser envolvido na construção de um nome alternativ­o da direita para as próximas eleições presidenci­ais, depois que Alckmin, Serra, Aécio etc. foram tragados pelo turbilhão da Lava Jato (“Diante de Temer, Moro é condecorad­o com medalha do Exército”, “Poder”, 20/4).

ALCEU DE ANDRADE MARTINS

“Como explicar? Como podem se comportar de uma forma daquelas quando entram em um estádio de futebol?” Eu respondo: é o mesmo motivo que leva 50 mil pessoas a entoarem em uníssono o grito de “bicha” para o adversário em um estádio. Pais de família acompanhad­os de seus filhos! Essa é a educação que conseguimo­s transmitir dentro de casa (“‘O futebol está doente’, diz pai e torcedor atirado de arquibanca­da”, “Esporte”, 20/4).

LEONARDO BITTAR

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