Folha de S.Paulo

Saques e protestos contra Maduro deixam 12 mortos na Venezuela

Onda de manifestaç­ões já soma 21 mortos, a maioria à noite; bairro de chavista é o mais afetado

- DIEGO ZERBATO

Regiões pobres do país se rebelaram pela 2ª noite consecutiv­a depois de protesto de dirigentes opositores

Horas após protestos matutinos convocados pela oposição contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, uma nova série de manifestaç­ões e saques na noite de quinta para sexta-feira (21) deixou 12 mortos em bairros pobres de Caracas.

Foi o dia com o maior número de vítimas desde o início da onda de protestos, que começou no final de março depois que a Justiça tentou tirar os poderes da Assembleia Nacional, dominada pelos opositores do chavista.

O local onde houve mais mortos —11 até agora— foi o bairro de El Valle, na zona sul da capital, onde Maduro cresceu. Houve protestos na região desde o início da noite, quando moradores colocaram fogo em lixo e pneus e montaram barricadas nas principais vias.

Eles chegaram a ser dispersado­s com bombas de gás lacrimogên­eo pela Guarda Nacional. A fumaça atingiu um hospital infantil, que precisou ser esvaziado.

“Parecia uma guerra. A Guarda e a polícia usava gás, civis armados atiravam contra prédios. Minha família e eu nos jogamos no chão. Foi horrível. Conseguimo­s dormir depois que tudo acabou às três da madrugada”, contou Carlos Yánez, 33, morador de El Valle, à AFP.

Durante a madrugada, no entanto, os moradores invadiram 17 estabeleci­mentos comerciais e começaram a ser atacados por coletivos (milícias armadas chavistas).

Na confusão, um fio de alta tensão atingiu uma padaria na favela de San Andrés e eletrocuto­u oito pessoas que desde janeiro desde 1º de abril desde 4 de abril até 21 de abril

Embora os atos dos dirigentes opositores, que ocupam as ruas principais da cidades durante o dia, sejam mais visíveis, só três das 21 mortes ocorreram nos protestos convocados por eles.

O restante foi em mobilizaçõ­es à noite, feitas por vizinhos que montam barricadas e fecham os acessos aos bairros e não têm relações aparente com os políticos.

O fenômeno começou de forma espontânea após os protestos do último dia 8, e ocorreu principalm­ente em antigos redutos chavistas.

As principais reivindica­ções contra Maduro são relativas à escassez de alimentos e remédios. A tensão também é mais elevada porque a maioria dos membros de coletivos vive nessas comunidade­s.

Só neste ano, pelo menos 22 pessoas morreram em confrontos entre manifestan­tes e policiais e em protestos. Apenas em abril, 1.289 foram detidas, das quais 672 permanecem presas.

DE SÃO PAULO

Um grupo de 11 países latino-americanos, incluindo o Brasil, condenou nesta sexta-feira (21) a violência nos protestos na Venezuela e exigiu ao governo de Nicolás Maduro que convoque eleições regionais, que deveriam ter ocorrido em dezembro.

Pela primeira vez o Uruguai, que até então se mantinha neutro, participa das notas críticas ao chavismo, após uma semana em que as relações estremecer­am devido a acusações de Maduro ao presidente Tabaré Vázquez.

Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai pedem medidas com urgência “para garantir os direitos fundamenta­is e preservar a paz social”.

Eles endossaram o pedido do secretário-geral da ONU, António Guterres, para governo e oposição conterem a polarizaçã­o e criarem as condições para recuperar o país.

“É imperativo que a Venezuela retome o caminho da institucio­nalidade democrátic­a e que seu governo defina as datas para o cumpriment­o do cronograma eleitoral, liberte os presos políticos e garanta a separação dos poderes constituci­onais”.

A assinatura da nota é o marco da piora das relações entre Caracas e Montevidéu, que começou no domingo (16), quando Maduro acusou o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, de conspirar com os EUA para derrubá-lo.

No dia seguinte, Vázquez defendeu o ministro e exigiu do chavista uma retratação e convocou o embaixador venezuelan­o, Julio Chirino, para um protesto. Na quinta (20), o uruguaio disse que não fala com o colega há cinco meses.

“O Maduro reclama de eu não falar com ele. Claro que não vou falar, porque se o chanceler convoca o embaixador de outro país, tem que ir”. Chirino se encontrou com Nin Novoa nesta sexta.

O uruguaio estava neutro devido à divisão de seu partido, a Frente Ampla (esquerda), sobre a Venezuela. A ala centrista, liderada pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro, pressionav­a pela condenação a Maduro, enquanto a extrema esquerda continua a defender o chavista.

Em reação às 12 mortes desta quinta-feira, a diretora da ONG Anistia Internacio­nal para as Américas, Erika Guevara-Rosas, disse que a Venezuela “está se tornando um país onde os esforços para reprimir superam aqueles para proteger as pessoas”.

(DZ)

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Carlos García Rawlins/Reuters Agentes da Polícia Nacional e do Ministério Público fazem perícia em frente a padaria da favela de San Andrés, em Caracas, onde 11 pessoas morreram

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