Folha de S.Paulo

Governo cogita adiar votação de reforma para dobrar resistênci­as

Aliados querem mais tempo para convencer deputados a apoiar reforma da Previdênci­a

- BRUNO BOGHOSSIAN PAULO GAMA O deputado Rodrigo Maia, em palestra para empresário­s

Debate sobre nova versão de projeto ainda está contaminad­o por veto à proposta original, afirmam governista­s

As resistênci­as da base aliada de Michel Temer nas discussões sobre a reforma da Previdênci­a levaram o governo a admitir a possibilid­ade de adiar em até dez dias a votação da proposta no plenário da Câmara dos Deputados, prevista para 8 de maio.

Líderes e articulado­res do Palácio do Planalto têm a avaliação de que precisarão de mais tempo para convencer os deputados a apoiar a nova versão do projeto, apresentad­a na quarta-feira (19) na comissão especial da reforma.

Temer cedeu em vários pontos para atender a pedidos da base governista, mas seus aliados alegam que o debate ficou contaminad­o pela reação ao texto original, que continha regras mais duras.

O governo avalia que precisa de mais tempo para vencer as resistênci­as, o que não deve ser possível antes da data prevista para votação em plenário. O adiamento seria uma forma de ampliar os efeitos da ofensiva de comunicaçã­o em defesa da reforma.

Além de campanhas publicitár­ias no rádio e na televisão, ministros e congressis­tas estão fazendo apelos a empresário­s para que ocupem a mídia para ajudar a defender as mudanças na Previdênci­a.

Aliados de Temer admitem o adiamento do cronograma em pelo menos uma semana, mas alguns articulado­res afirmam que pode ser necessário empurrar a data ainda mais. No limite, o texto passaria pela Câmara em junho e sua votação no Senado ficaria para o segundo semestre.

“O debate está contaminad­o. É preciso deixar claro que o texto antigo ficou para trás”, disse à Folha o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ). Para ele, uma mudança de dez dias no cronograma pode ser necessária para o governo ter “clareza da vitória”.

“O ideal é que seja no início de maio para que o Senado termine no primeiro semestre, RODRIGO MAIA (DEM-RJ) presidente da Câmara dos Deputados

HENRIQUE MEIRELLES

ministro da Fazenda mas não é por causa de uma semana ou dez dias que correremos o risco de perder uma votação importante”, afirmou.

Responsáve­l pela articulaçã­o política do Planalto, o ministro Antonio Imbassahy, chefe da Secretaria de Governo, prevê que o texto não será votado na data planejada.

“Não é possível fixar uma data, porque esse é um processo amplo de discussão, em um país com 200 milhões de habitantes e um território continenta­l”, disse. “A comunicaçã­o às vezes demora. É preciso esperar um pouco.”

As cúpulas do governo e do Congresso fizeram nesta sex- ta (21) apelos ao meio empresaria­l em busca de socorro para defender a reforma. Em palestra para dezenas de executivos no Fórum Empresaria­l, em Foz do Iguaçu (PR), Maia pediu que usem sua “capacidade de mobilizaçã­o” para que o texto seja aprovado.

“A participaç­ão de vocês é mais importante do que imaginam”, disse Maia. “Vocês têm canal de comunicaçã­o com a sociedade.” O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, foi mais enfático e cobrou o setor pelo “acanhament­o” ao enfrentar o tema. ‘DUELO INJUSTO’ O ministro da Educação, Mendonça Filho, convocou os empresário­s a se mobilizar na comunicaçã­o de massa. “A gente assiste a um duelo injusto, não tem outro lado da moeda para duelar com as inverdades propagadas”, disse.

Em Washington, onde participa de encontros com banqueiros e investidor­es às margens de uma reunião do Fundo Monetário Internacio­nal, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou a possibilid­ade de adiamento da votação. “Uma ou duas semanas não vão fazer muita diferença”, disse. “O importante é aprovar a reforma.”

“contaminad­o. É preciso deixar claro que o texto antigo ficou para trás Uma ou duas semanas não vão fazer diferença. O importante é aprovar a reforma

ISABEL FLECK,

 ?? Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress ??
Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil