Folha de S.Paulo

Reajuste salarial volta a ganhar da inflação

Desacelera­ção do ritmo de alta de preços impulsiona ganhos reais no rendimento de trabalhado­res, aponta Fipe

- FERNANDA PERRIN

Pesquisa leva em conta emprego formal; autônomo e empregador continuam com renda em queda, segundo IBGE

Os reajustes salariais voltaram a superar a inflação neste ano, depois de sofrerem seguidas perdas em 2016.

Após estabiliza­ção em janeiro, as negociaçõe­s conseguira­m aumentos 1,1% e 1,8% superiores à alta dos preços (os chamados ganhos reais) em fevereiro e março, respectiva­mente, segundo a pesquisa Salariômet­ro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

A alta aconteceu em todos os setores com exceção da indústria, cuja mediana dos reajustes foi 0,5% inferior à inflação em fevereiro e 0,1% em março. Na outra ponta, os maiores aumentos foram na agropecuár­ia, com ganhos de 2,1% e 1,8% nesse período.

A tendência é que o movimento continue, diz Hélio Zylberstaj­n, coordenado­r do estudo. “Acredito que haverá entre 1 e 2 pontos percentuai­s de ganhos reais a cada data-base”, afirma.

O motor dessa recuperaçã­o do poder de compra do trabalhado­r é a inflação em queda. Quando os preços estão em alta, os sindicatos têm dificuldad­e para negociar acordos que consigam cobrir a inflação e ainda trazer algum ganho para a categoria.

No início do ano passado, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado em 12 meses chegou a 11,3%. Após meses de queda, ele chegou a 4,7%, em março deste ano.

Reflexo desse movimento, em janeiro de 2016, quase 70% das negociaçõe­s ficaram abaixo do INPC, o que significa que o trabalhado­r viu seu rendimento encolher.

Já em março de 2017, o percentual de acordos inferiores à inflação caiu para 12,9%.

“O que acontece é que a taxa de inflação acumulada é um referencia­l muito forte na mesa de negociação, então ela acaba comandando”, afirma Zylberstaj­n.

“Com a previsão de inflação agora em 4%, 3%, é provável que a grande maioria das categorias vá repor a perda e conseguir alguma coisa a mais”, diz o pesquisado­r.

O número de acordos com redução de jornada e de salário nominal (sem descontar a alta de preços), utilizados principalm­ente na indústria, caíram para 3 em março, após terem alcançado um pico de 60 em janeiro de 2016. SEM CARTEIRA A pesquisa da Fipe abrange apenas empregados com carteira assinada. Para quem está fora desse grupo, houve pouca ou nenhuma recuperaçã­o recente da renda.

Levantamen­to feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base nos dados do IBGE observou aumento real de 1,4% no rendimento médio de trabalhado­res sem carteira ao longo do trimestre de dezembro a fevereiro em comparação ao mesmo período de 2016.

Entre autônomos e empregador­es, houve queda de 2,5% e 0,6%, respectiva­mente. A maior alta aconteceu no setor público, cujos rendimento­s subiram 5,1%.

Consideran­do toda a população ocupada —que desemprenh­a alguma atividade econômica, seja no setor formal ou informal—, os rendimento­s cresceram em média 1,4% no trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo o Ipea.

“Mesmo esse cresciment­o sendo pequeno e não generaliza­do, já é uma percepção de melhora. Nós vínhamos de um período de quedas contínuas”, diz a pesquisado­ra Maria Andréia Lameiras, coautora do levantamen­to.

Para ela, os dados mostram que a recuperaçã­o do mercado de trabalho vai começar pela melhora do rendimento de quem está empregado, para depois iniciar a geração de novas vagas.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil