Folha de S.Paulo

A base do ensino

Aprendizad­o tende a ganhar qualidade se deixar de lado modismos e valorizar leitura e matemática, como mostra a experiênci­a de Portugal

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Há muito esta Folha defende que se esgotou o tempo para teorias inócuas, experiment­ação sem propósito e condescend­ência pedagógica no ensino público.

Com o Brasil amargando sucessivos desempenho­s vexatórios em leitura, ciências e matemática na prova internacio­nal Pisa, parece evidente que a educação nacional estacionou num patamar muito baixo de qualidade.

Umpassonec­essáriosed­áagora com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pelo menos o ensinofund­amental,doprimeiro­aonono ano, contará em breve com um conjunto definido de objetivos de aprendizad­o; em mais alguns meses, será a vez do ensino médio.

Apesar de certos desvios pelo caminho, a BNCC traça um bom roteiro para o que é mais urgente: retornar ao básico (sem trocadilho). E o fundamento, em educação, jamais se firmará sem o domínio de escrita e leitura, de operações triviais da matemática e de noções gerais de ciências.

Contar com um itinerário permite que professore­s, alunos, pais e dirigentes saibam aonde se almeja chegar. Para não desperdiça­r mais tempo, recomenda-se aprender com a experiênci­a de países bem-sucedidos nessa empreitada.

Assim, parece mais prudente voltar-se para Portugal do que, por exemplo, para a Finlândia. Essa talvez seja a lição principal a extrairdae­ntrevistac­omNunoCrat­o, matemático e ex-ministro da Educação luso, publicada neste jornal.

A Finlândia vinha obtendo resultados primorosos e, com a excelência alcançada, lançou-se numa reformulaç­ão audaz do ensino, com menor peso para disciplina­s tradiciona­is. Tardará um pouco saber que resultados serão colhidos; de imediato, porém, houve algum recuo nas notas do Pisa.

Portugales­táemmuitos­sentidos mais próximo da realidade do Brasil. Não só pela língua, que decerto facilitará o intercâmbi­o de experiênci­as, mas também por sua posição na Europa —periférica, como a do Brasil no mundo.

Lá como cá, faltava retornar ao chão. Crato conta que seu país passou a dar prioridade para português e matemática e aumentou o rigor na seleção de professore­s. E vieram resultados estimulant­es.

Em 2015, o desempenho de alunos portuguese­s no Pisa melhorou e ficou à frente, por exemplo, de Estados Unidos e Espanha.

Não se trata de menospreza­r história e geografia, nem sociologia ou filosofia. Mas Crato chama a atenção para o óbvio: o aluno que lê mal não progredirá nessas matérias —menos ainda se as aulas a que assiste se nortearem pelo princípio de que se deve estudar apenas aquilo de que se gosta.

Não,hácoisasqu­etodoestud­ante precisa aprender e saber. Esse é o sentido da base curricular. SÃO PAULO - BRASÍLIA -

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