Folha de S.Paulo

Conflito entre órgãos põe em risco leniência, diz advogado

Defensor de empresas e delatores critica resistênci­a de AGU e TCU a acordos

- CAMILA MATTOSO

Rodrigo Mudrovisch­t, que já advogou para Gilmar Mendes, vê ‘hiperexpos­ição’ do STF na agenda política

Advogado de políticos, empresasco­moCamargoC­orrêa, JBS e Marfrig e de dois delatores da lista de 77 da Odebrecht, Rodrigo Mudrovisch­t diz que o conflito entre órgãos do Estado está fazendo parecer que acordos de leniência são uma “missão impossível”, “uma aventura”.

Ele afirma que o imbróglio que se criou entre os entes estatais pode provocar um desestímul­o à colaboraçã­o por parte das empresas.

Mudrovisch­t avalia que há uma “hiperexpos­ição” do Supremo Tribunal Federal na agenda política do país e diz que ministros devem se cuidar para não romperem barreiras republican­as.

O advogado defende o exvice-presidente de Relações Institucio­nais da Odebrecht Claudio Melo Filho e José Carvalho, que tinha cargo de diretor na empreiteir­a.

Também já advogou em algumas causas para Gilmar Mendes, presidente do TSE e ministro do STF. Folha - Não foi um exagero acertar uma colaboraçã­o de 77 ex-executivos da Odebrecht?

Rodrigo Mudrovisch­t - Tem de se analisar em cada caso a credibilid­ade e a inovação. Se houveresse­binômiopre­sente, não há problema. Pode fazer com70,com100,nãotemmate­mática. A PGR disse não a Duda Mendonça e sim para 77 executivos da mesma empresa. Não é um contradiçã­o?

A questão de selecionar comquemfaz,temdeanali­sar na seguinte perspectiv­a: não há um direito subjetivo das pessoas em fazer a delação. Não é todo mundo que tem esse direito. Se trouxer novos elementos e tiver a credibilid­ade, passa a ter direito. Não acha que pode acabar gerando perdão exagerado?

Acho que não. Meu ponto de preocupaçã­o é em outro sentido. Se se privilegia­r com excesso a agenda de cada órgão do governo e derem possibilid­adeaelesde­questionar acordos firmados, vão transforma­r a leniência em uma missão impossível.

Isso é perigoso. A AGU se opondo aos acordos de leniência. TCU dizendo que vão ser revistos. Você passa a imagem de que acordo de leniência é uma aventura. Como resolver isso?

O Estado não pode passar mensagens contraditó­rias. É um desestímul­o, constrange as empresas a levarem informaçõe­s por causa das burocracia­s. A lei precisa estar mais clara, é verdade. O senhor é advogado de dois delatores. Isso não causa estranheza de que a delação foi algo combinado?

Sempretemd­esetomarum cuidadopar­acelebrarm­aisde uma colaboraçã­o ao mesmo tempo. Estou falando da ética da advocacia.

Cabe ao Ministério Público verificar se houve ajuste prévio na colaboraçã­o. Não vi isso nos casos em que eu trabalhei. O senhor vê um protagonis­mo exagerado do Supremo?

O Supremo foi jogado muito fortemente na arena política brasileira. O Supremo não é um agente neutro. Ele é um agente político. Há, sim, excesso de protagonis­mo na agenda política. Temos que saber lidar com isso. Gilmar Mendes, que é seu cliente, tem sido criticado pela exposição.

Eu não posso falar pelo Gilmar. O Supremo tem de ser aberto para conversar com os agentes políticos.

O que não faz com que a gente possa imaginar que qualquer audiência seja ilícita. Natural que tenha que se ter cuidado para não romper barreiras republican­as. Não julgar causas em que tenha interesse dentro delas ou que tenha como parte seu amigo íntimo ou seu inimigo capital.

Eu concordo que um protagonis­momaisfort­edaagenda do Supremo acaba levando a uma hiperexpos­ição.

O Supremo tem 11 ministros. Tem de falar com cuidado sobre suspeição e impediment­o. Não pode ser banalizado lá dentro. Você gera quase que inviabilid­ade de julgamento assim.

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André Coelho - 11.mar.2016/Agência O Globo O advogado Rodrigo Mudrovisch­t, que defende delatores

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