Folha de S.Paulo

Providênci­as supremas

- JANIO DE FREITAS

A SOLUÇÃO de distribuir entre os ministros do Supremo os 76 inquéritos autorizado­s pelo relator Luiz Edson Fachin pode apressar parte dos julgamento­s de acusados na Lava Jato, mas tem um inconvenie­nte básico. A diversidad­e na composição do tribunal leva ao risco, senão à certeza, de critérios jurídicos e interpreta­ções pessoais diferentes para decisões de casos semelhante­s. O resultado provável são diferentes graus de justiça.

Mesmo que os inquéritos com presença da Petrobras fiquem todos reservados ao ministro Fachin, permanece a caracterís­tica geral dos casos: acima do envolvimen­to da estatal, trata-se de uma estrutura operativa de corrupção política e administra­tiva para saquear, em várias frentes, verbas públicas e mistas. Conviria muito, portanto, que os julgamento­s respondess­em também com unicidade jurídica nas inculpaçõe­s e inocentaçõ­es.

A efetivar-se, a distribuiç­ão de inquéritos não será a primeira da Lava Jato no Supremo. O lote inicial de casos mandado pela Procurador­ia-Geral da República ainda não dá informaçõe­s sobre resultados da distribuiç­ão. Nem é provável que o faça com utilidade, porque a carga pesada começou a chegar agora. A ministra Cármen Lúcia providenci­a reforços ao quadro de juízes auxiliares. E nisso, em escala bastante maior e posta sob orientação e supervisão do relator, poderia estar o modo de evitar ou reduzir a distribuiç­ão e a possível disparidad­e de decisões dos casos. Os demais ministros têm muito com que se ocupar, na fila quilométri­ca dos processos em atraso.

Além da distribuiç­ão, o lote mais recente de acusados da Lava Jato é objeto de uma providênci­a menos à altura do Supremo. A ministra Cármen Lúcia acha necessário —afinal, alguém acha— investigar o vazamento que se antecipou à liberação, pelo relator Fachin, da nova lista de acusados, que “O Estado de S. Paulo” publicou. A ministra estava nos Estados Unidos quando avisada da publicação.

Surpreendi­da, quis saber de Fachin o que o apressara. Enfim superada a dificuldad­e de localizá-lo, em descanso no interior paranaense, encontrou-o não menos surpreso. A presidente do STF não digeriu o vazamento. É compreensí­vel e admirável.

Aquele, porém, não foi vazamento com aspas. Não foi ato seletivo de um juiz, ou procurador­es, ou policiais, de veracidade incomprova­da e dirigido para incentivar escândalos e exacerbar iras contra uma pessoa ou um grupo de pessoas. “Furos” jornalísti­cos provêm, quase todos, de vazamentos —mas de intenções honestas na origem e nos fins. Investigá-los requer cuidados com a diferença. NO CAMINHO Antonio Palocci, além de inteligent­e, é experiente, inclusive em situações de suspeito (como no caso do lixo e de outros da sua passagem como prefeito de Ribeiro Preto). Toda a parte divulgada de seu depoimento a Sergio Moro é uma arquitetur­a exemplar de ambiguidad­e.

Impossível concluir se Palocci prejudicou ou beneficiou o PT, Dilma, Lula e outros petistas, algum empreiteir­o ou intermediá­rio.

De claro, só a certeza de que Palocci tem uma manobra preparada por trás da oferta, feita a Moro, de lhe “abrir um caminho” que levaria a ocupá-lo por mais um ano. Quanto a ele, não se sabe para onde Palocci caminha.

Distribuir inquéritos entre ministros do STF pode gerar decisões diferentes para casos semelhante­s

NEGÓCIOS A onda, apenas iniciada, sobre venda dos Correios por causa de prejuízos tem explicação simples. O cresciment­o das vendas pela internet faz do serviço de entregas um dos negócios mais promissore­s do Brasil, sendo já sucesso financeiro em muitos países. A conversa de prejuízo, a alegada falta de perspectiv­a e a liquidação de agências esvaziam o valor da empresa. Para privatizaç­ão, com grupos já interessad­os e na ativa, no ano que vem.

É o governo Temer em ação. Até a próxima Lava Jato.

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