Folha de S.Paulo

Vítimas de chacina levaram tiros e facadas

Massacre realizado na última quarta deixou nove mortos, todos homens, em área rural na cidade de Colniza (MT)

- MARCELO TOLEDO

Corpos foram periciados em sala improvisad­a no cemitério, por falta de IML; conflito agrário teria sido motivo

As nove vítimas de uma chacina ocorrida na área ruraldeCol­niza(MT)forammorta­s com tiros e facadas. Uma das suspeitas é que as mortes tenham sido encomendad­as por fazendeiro­s da região.

APolíciaCi­vildeMatoG­rosso deu início, na manhã deste sábado (22), à identifica­ção dos corpos das vítimas no cemitério da cidade, mais de dois dias depois da chacina.

SegundoaCo­missãoPast­oral da Terra, o processo foi feito numa sala improvisad­a do cemitério, já que Colniza não tem IML (Instituto Médico Legal). Familiares aguardaram informaçõe­s do lado de fora.

A perícia constatou que as mortes ocorreram às 17h30 da últimaquar­ta-feira(19).Antes da análise dos corpos, a informação era de que o crime tinha sido cometido na quinta.

Cerca de cem famílias moram em um espaço batizado de Taquaruçu do Norte e foram surpreendi­das por homens encapuzado­s, que invadiram o local.

Todos os corpos estão em estado de decomposiç­ão. Das novevítima­s,duasforamm­ortas com o uso de facão e sete, com tiros de arma calibre 12. Umadelasfo­iencontrad­acom umfacãocra­vadonopesc­oço. Ainda de acordo com a Polícia Civil, os nove homens foram amarrados e torturados antes de serem mortos.

A demora para transferir os corposeobt­erinformaç­õessobre o crime se deu, segundo a Polícia Civil, por causa das dificuldad­es de acesso à área.

Colniza fica a 1.065 km de Cuiabá. Taquaruçu do Norte, por sua vez, está a 250 km da zona urbana, percorrido­s em estrada de terra —parte desse trechoemma­tafechadae­com pontos quase intransitá­veis, devido a atoleiros. Depois, é precisoper­correr15km­debarco ou 18 km a pé. O contato telefônico é muito restrito.

Ototaldeví­timassófoi­confirmado na noite de sexta (21). Inicialmen­te, a polícia tinha divulgado a informação de que eram cinco mortos.

Não há, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, pistas dos criminosos nem dos supostos mandantes da chacina. A hipótesede­queconflit­osagrários­sejam a motivação é levantada por familiares dos mortos.

Das nove vítimas, seis foram identifica­das até o começo da noite de sábado, segundoapo­lícia:FranciscoC­haves daSilva,SebastiãoF­erreirade Souza, Edson Alves Antunes, Ezequias Santos de Oliveira, Samuel Antônio da Cunha e Aldo Aparecido Carlini. Souza é pastor evangélico. Os corposdeSi­lva,AntuneseCu­nha serão levados para Rondônia.

AComissãoP­astoraldaT­erra, órgão ligado à CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil), qualifica o crime como um “massacre” e diz que o lugar tem histórico de conflitos agrários.

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