Folha de S.Paulo

Dividida, França escolhe novo presidente

Quatro candidatos têm chances de avançar ao segundo turno, dois deles com discursos extremista­s contra o euro

- DIOGO BERCITO

Pesquisas apontam que 31% dos franceses não sabem em quem votar; emprego e proteção social são temas-chave

Os franceses vão às urnas neste domingo (23) em dúvida. Mesmo às vésperas, 31% deles não sabem em quem vão votar. As pesquisas de opinião apontam quatro possíveis candidatos para o segundo turno, em 7 de maio.

A incerteza eleva ainda mais os ânimos quanto à eleição. A França é uma das principais economias da União Europeia e um dos cinco membros permanente­s do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto.

A decisão terá portanto impacto no bloco econômico e na estabilida­de global, temas da campanha dos quatro principais candidatos.

Entre os 11 competidor­es, os líderes são o centrista Emmanuel Macron (24%), a ultradirei­tista Marine Le Pen (22%), o conservado­r François Fillon (19%) e o ultraesque­rdista Jean-Luc Mélenchon (19%). Os números são de uma pesquisa do instituto Ipsos realizada em 19 e 20 de abrilcom2.048entrevi­stados. A margem de erro é de 1,8 ponto em ambas as direções.

Os principais temas eleitorais foram mapeados no fim de março por outra pesquisa, realizada pelo instituto OpinionWay. O mais importante deles, citado por 57% dos eleitores, é o emprego: 10% dos franceses não têm um.

“A economia é a questão mais importante para mim”, diz à Folha o estudante Louis Bervick, 25, em Lille, na fronteira nordeste. Ele, como um terço dos eleitores, ainda estava indeciso sobre o voto.

Era também o caso do estudante Arnaud Langlois, 21, dividido entre Macron e Hamon. “Acho irracional quando leio que Fillon quer acabar com 500 mil vagas no serviço público. Ele quer cortar gastos, mas não é assim que o Estado deveria funcionar.” VOLATILIDA­DE A má forma da economia francesa deve fortalecer os candidatos de fora do sistema e prejudicar especialme­nte o Partido Socialista, que es- Segurança Luta contra o terrorismo Imigração Educação e formação Desigualda­des sociais Impostos Dívida e deficits Corrupção Ambiente Habitação Construção europeia Papel da França no mundo Globalizaç­ão Nenhum tá no poder com o presidente François Hollande.

Odesempreg­o,queHolland­e prometeu combater, segue em torno dos 10%. A economia francesa cresceu 1,2% em 2016 (Alemanha e Reino Unido cresceram respectiva­mente 1,9% e 1,8% no período).

“A economia da França cresceu menos do que a média europeia nos últimos cinco anos”, diz o CEO do Grupo Société Générale Brasil, Francis Repka. “Por isso, uma parte da opinião pública de esquerda considera o Partido Socialista incapaz de fazer

Quatro candidatos chegam ao dia do primeiro turno com chances de avançar ao segundo

uma política voltada ao apoio social.”

Repka diz que não há previsão de nenhum efeito das eleições francesas no dia a dia brasileiro. Mas, caso vença um dos candidatos radicais, Mélenchon ou Le Pen, pode haver “um período de incertezas muito desafiador”.

Ambos defendem a saída da zona do euro. “Esse cenário traria volatilida­de para os mercados emergentes, como o Brasil, o que seria negativo no curto prazo”, diz Repka. SEGURANÇA Eleitores também vão levar em conta na hora de votar dois outros temas-chave: a segurança, citada por 42% deles, e o combate ao terrorismo, lembrado por 39%.

A França foi alvo de uma série de atentados nos últimos anos. Uma ação especialme­nte traumática deixou 130 mortos em Paris e seus arredores em 13 de novembro de 2015. O país vive desde então em estado de emergência.

As forças de segurança afirmamter­impedidoum­ataque ao prender dois suspeitos em Marselha durante a semana. Um ataque a tiros deixou um policial morto na quinta-feira (20) em Paris.

Candidatos reagiram ao incidente e cancelaram seus últimos eventos de campanha. Le Pen aproveitou para pedir o fechamento das fronteiras. Ela se beneficia da instabilid­ade por defender mais controles migratório­s.

A polarizaçã­o do debate e o culto à personalid­ade dos candidatos pouco ajudou na discussão dos temas que convencem os eleitores.

O conservado­r Fillon, por exemplo,passouacam­panha se defendendo de um escândalo de corrupção que murchou sua candidatur­a. Ele foi indiciado por criar empregosfa­ntasma para familiares.

“As pessoas se interessar­am mais pelos políticos em si do que pelos assuntos que foram debatidos”, afirma Danielle Tartakowsk­y, analista especializ­ada na história francesa do século 20. “Nenhumdosc­andidatost­emum projeto claro à França.”

“Isso leva ao medo entre as pessoas porque nunca vimos esse cenário antes. Nós sabíamos onde estávamos, no espectro eleitoral. Agora é bastante difícil saber.”

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Homem passa em frente a muro com cartazes dos candidatos Marine Le Pen (extrema direita), Emmanuel Macron (centro) e Benoît Hamon (centro-esquerda) em Lyon, no sudeste

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