Contribuição para a Previdência resiste a alta do desemprego
Metade da população ocupada não tem carteira assinada, mas maioria mantém contribuição para aposentadoria
Apesar do impacto da recessão, trabalhadores que seguem pagando a Previdência alcançam 65% do total em 2016
65% contribuíram para a Previdência no quarto trimestre do ano passado, mais do que os 62% de quatro anos antes.
Em números absolutos, a alta foi de 56 milhões de trabalhadores para quase 59 milhões no mesmo intervalo.
“O senso comum leva a pensar que seria o contrário”, diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Mas, embora a A carteira de trabalho deixou crise tenha levado ao desemprego, de ser uma realidade para a contribuição manteve metade dos brasileiros que o ritmo de crescimento.” sobreviveramàcriseeconômica,masnemassimosonhoda Segundo ele, trata-se de um movimento gradual, que aposentadoria perdeu força. evolui à medida que a população
De acordo com as estatísticas “ganha acesso à educação do IBGE, o grupo que trabalha e à informação sobre a sem carteira assinada importância de contribuir”. chegou no fim do ano passado Entre os trabalhadores por à marca de 50% da população conta própria, que hoje reúnem ocupada no Brasil, pela 22 milhões de pessoas primeira vez em cinco anos. —de ambulantes a consultores—,
A onda de demissões dos a parcela dos que contribuem últimos dois anos fez crescer cresceu de 23% em o número de pessoas que trabalham 2012 para 31% no fim de 2016. por conta própria, Para quem trabalha sem abrindo seus próprios negócios registro em carteira, o aumento ou atuando sem registro. na parcela de contribuintes
Embora a tendência nessas foi de quase 11% para formas de trabalho seja a 15% nos últimos cinco anos. informalidade, o que se viu O movimento se repete entre foi um aumento do número os empregadores, em que de pessoas que contribuíram a parcela de pessoas que contribuem para a Previdência Social. para a Previdência
Dos poucos mais de 90 milhões aumentou de 69% para 78%. de trabalhadores brasileiros É o caso de Mel Casagrande, (com e sem carteira), que trabalhou com carteira assinada por 15 anos na companhia aérea TAM, mas foi demitida em um corte promovido durante a recessão.
“Chorei três dias e levantei depois pensando que era hora de colocar em prática um sonho de negócio engavetado por muito tempo”, conta.
Casagrande abriu uma pequena loja de roupas femininas no ano passado e decidiu agora expandir para vender também peças de decoração. GERAÇÃO Trata-se de uma questão cultural, segundo o professor Bruno Ottoni, da FGV. “O indivíduo que passou pelo emprego formal está acostumado, entende que o benefício existe e tem motivação para continuar”, diz. “O que estava no mercado informal se desmotiva, principalmente agora que a lei vai mudar.”
A professora do Ibmec/RJ Ylana Miller pondera que a Previdência pode sofrer um “impacto geracional”, intensificado pela reforma em discussão no Congresso, dificultando a conquista do benefício. “Essa nova geração não vê mais tanto valor em contribuir porque não tem uma contrapartida adequada. Por isso vemos crescer a tendência de preferência por uma previdência privada”, diz.