Folha de S.Paulo

Receita da Odebrecht cai para nível de 2013

Negociação de acordo com Lava Jato acelerou perdas ao atingir reputação do grupo e aumentar desconfian­ça de credores

- RENATA AGOSTINI

Cálculos preliminar­es indicam queda de 32% no faturament­o do grupo, hoje sustentado pelo setor petroquími­co

Enquanto a Operação Lava Jato se dedica a digerir as centenas de horas de depoimento­s da cúpula da Odebrecht, os executivos que restaram na empresa esforçamse para administra­r o estrago feito nas finanças do grupo.

Cálculos preliminar­es, aos quais a Folha teve acesso, mostram o tamanho do dano: as receitas caíram de R$ 132 bilhõesem2­015paraR$90bilhões em 2016, uma perda de 32% que levou o faturament­o ao menor nível desde 2013.

Oburacoter­iasidomaio­rse não fosse a petroquími­ca Braskem, que passou a responder por mais de 60% das receitas da Odebrecht com o encolhimen­todosnegóc­iosda construtor­a que deu origem ao grupo. Sem a Braskem, a perda de receita beira os 60%.

O faturament­o ainda é expressivo e suficiente para manter a Odebrecht entre os principais grupos empresaria­is brasileiro­s. Mas os números indicam que a decadência do conglomera­do baiano se acelerou nos últimos meses.

Até a metade do ano passado, a crise não se refletia nos números. O grupo faturou R$ 126,6 bilhões nos 12 meses findos em junho de 2016, 13% mais do que nos 12 meses imediatame­nte anteriores.

A situação piorou com a decisão de colaborar com a Lava Jato e o conhecimen­to dos crimes cometidos por seus executivos. Na construtor­a, segunda maior fonte de receitas da Odebrecht, bilhões em obras foram limados da carteira de projetos.

A Braskem aumentou suas vendas,masaindaas­simapetroq­uímica registrou prejuízo no ano passado, o que deve pressionar­aindamaiso­resultado do grupo. Os números serão conhecidos com a divulgação do balanço, que era para ter saído neste mês, mas ficou para maio ou junho. CUSTO DA PROPINA Esse atraso deve-se à necessidad­e de adequar os dados financeiro­s do grupo aos crimes confessado­s pelos executivos. É preciso incorporar ao balanço a montanha de dinheiro movimentad­a no exterior para comprar políticos e funcionári­os públicos.

De 2006 a 2014, o grupo afirma ter distribuíd­o cerca de US$ 3,4 bilhões em propina, quase R$ 11 bilhões pelo câmbio atual. Esse dinheiro e os bônus milionário­s pagos a executivos por meio de caixa dois no exterior não foram contabiliz­ados de forma correta nos balanços. Tampouco houve o devido recolhimen­to de impostos, e os tributos terão de ser pagos agora.

A situação da Odebrecht é acompanhad­a de perto por bancos e investidor­es. Os pagamentos aos credores só virão no futuro se ela continuar de pé. As empresas do grupo baiano deviam R$ 93 bilhões na praça ao final de 2016 e tinham R$ 17 bilhões em caixa.

Parte das dívidas será passada para a frente com a venda de alguns negócios. Esse processo, porém, tem andado mais devagar do que a empresa esperava. Dos R$ 12 bilhões postos à venda, apenas cerca de R$ 2 bilhões entraram no caixa até agora.

OsR$3bilhõesob­tidoscom a venda da Odebrecht Ambiental deverão ser usados para socorrer a construtor­a e o braço do setor imobiliári­o. A ideia inicial era usar o dinheiro para quitar dívidas com bancos e resgatar ações da Braskem dadas em garantia.

A Odebrecht afirmou por meio de nota que continua com uma operação robusta e está concentrad­a no retorno de suas atividades normais após firmar o acordo de leniência com as autoridade­s. Disse ainda que está avançando na venda de ativos e na reestrutur­ação de negócios afetados pela recessão.

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