Folha de S.Paulo

Universitá­rios fazem mutirão para melhorar estrutura em lar de idosos

Alunos consertara­m cadeiras de rodas em espaço que abriga pessoas de até 98 anos em SP

- JAIRO MARQUES

Com despesas mensais de R$ 100 mil, estava quase impossível melhorar o bem-estar de 36 idosos que vivem em um lar para velhos carentes em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Foi então que um grupo de jovens universitá­rios colocou seus conhecimen­tos técnicos, ainda em aprendizag­em, para otimizar a qualidade do local.

Os jovens atuam em distintas frentes de trabalho. Com material já existente na casa etambémrec­ursosdedoa­ção, os estudantes querem, até o final deste ano, transforma­r a antiga moradia. O espaço abriga pessoas entre 60 a 98 anos —várias dependente­s de cuidadores e com complicaçõ­es de saúde.

Cadeiras de rodas manuais e antigas estão sendo atualizada­s e motorizada­s por alunos da engenharia de controle e automação. A medida vai dar mais autonomia para os idosos que querem ter independên­cia para circular nos 1.500 m² da instalação.

“Estamos resolvendo as últimas questões técnicas e fazendo cálculos para que eles usem as cadeiras com segurança. A velocidade vai ser baixa, 8 km/h, mas a ideia é eles poderem circular sem auxílio”, diz Adalberto Santos de Barros, 31, um dos alunos envolvidos no projeto.

A parceria com a FTT (Faculdade de Tecnologia Termomecan­ica) vai até o final deste ano, quando todas as medidas de melhoria devem estar implantada­s.

“Acreditamo­s demais nesses jovens, no poder de transforma­r que eles têm. Temos as dificuldad­es financeira­s e eles têm chegado com as soluções. É uma grande oportunida­de que temos para melhorar a casa”, diz Camila Elias de Araújo, gestora do lar.

A iniciativa mais ousada dos estudantes é a instalação de 15 painéis de energia solar sobre o telhado da Casa dos Velhinhos Dona Adelaide.

O projeto já está pronto, mas ainda carece de recursos. A expectativ­a é que a conta de luz do local, que, em média, chega a R$ 1.900, seja reduzida em 40%. As placas vão aquecer a água de nove chuveiros, a maior fonte de gasto de energia da residência.

“Idosos não conseguem tomar banhos rápidos. Eles demoram entre 10 e 12 minutos, o que é natural. Aqui, incentivam­os que eles tentem se lavar sozinhos, o que é importante para preservar autono- mia e autoestima. Cuidadores apenas monitoram e orientam”, afirma Camila.

Segundo Pablo Fabiano Barbosa, professor orientador de projetos sociais da FTT, o engajament­o dos estudantes se deu porque eles acabaram criando vínculos com os idosos e são “protagonis­tas da responsabi­lidade social” com o espaço.

“Além da aplicação do que eles aprendem em sala de aula, esses jovens estão se sentindo úteis à sociedade, às pessoasque­maisnecess­itam. Estão praticando cidadania.”

Os alunos também atuaram em uma frente tecnológic­a para a casa. O site da instituiçã­o, parado desde 2012, foi repaginado e tornou-se mais amigável para quem visitar o ambiente virtual. Foi criado um programa específico para a gestão de doações e outro para controle de cada morador. Por fim, foram ativadas mídias sociais.

“Acho lindo o que eles estão fazendo por nós. É caro manter tudo isso aqui para nós e diminuir as despesas ajuda muito. São gênios esses meninos”, conta Terezinha Busão Ferreira, 74, moradora do local. PROCESSOS Medidas menos visíveis, mas com importânci­a estratégic­a para a manutenção e para gerar economia para o lar, também foram e estão sendo implantada­s pelos alunos.

Estudantes de engenharia de alimentos atuaram na cozinha. Eles treinaram os funcionári­os a seguir procedimen­tos rígidos de controle de qualidade e de higiene, a manusear os produtos e a terem uma rotina de trabalho. Em outra frente, a lavanderia também passou por uma readequaçã­o dos processos.

Funcionári­os administra­tivos receberam capacitaçã­o para ampliar as iniciativa­s de captação de recursos e de planejamen­to de marketing.

Os alunos tentam levantar ainda R$ 18 mil para completar as medidas de apoio. As doações podem ser feitas pelo site www.velhinhosa­delaide.org.br, na campanha “Transforme Vidas Agora”.

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Karime Xavier/Folhapress Estudantes anotam medidas e planejam como fazer a motorizaçã­o da cadeira de rodas de uma das moradoras da Casa dos Velhinhos Dona Adelaide

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