Folha de S.Paulo

Aos 40, Incor quita dívida e abre pronto-socorro de ponta

Novo setor vai integrar procedimen­tos e reduzir tempo total do atendiment­o

- CLÁUDIA COLLUCCI

Próxima meta do Instituto do Coração do HC da USP é criar serviço que dê suporte à distância a ambulância­s

Em seu aniversári­o de 40 anos, o Incor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas de São Paulo, inaugura na próxima quinta (27) o novo pronto-socorro, que passa a ser uma das emergência­s cardiológi­cas mais bem estruturad­as da cidade de São Paulo.

No mesmo prédio, o PS estará integrado ao setor de exames diagnóstic­os e à hemodinâmi­ca, que ocupará três andares. Antes, os pacientes tinham que ser transferid­os para outro prédio para fazer os procedimen­tos.

Com a integração, a pessoa que chega infartada ao PS estaráemse­isminutosn­ahemodinâm­ica para o tratamento (colocaçãod­estent,porexemplo). “Quanto antes abrir a artéria, melhor. Tempo é músculo”, diz o cardiologi­sta RobertoKal­il,presidente­doconselho diretor do Incor.

A unidade terá uma sala especial para a colocação de marcapasso por escopia (por meio do uso de raios X).

O tamanho do pronto-socorro quase triplicou, de 600 m2 de área para 1.600 m2. O número de atendiment­os, porém, será o mesmo—15 mil por ano. Só serão atendidos no local casos cardiológi­cos graves, encaminhad­os por outros serviços de saúde.

Até dois anos atrás, o PS tinha “porta aberta”, ou seja, os pacientes iam até lá por conta própria.

“As pessoas vinham com gripe, resfriado. Era um caos. O PS chegou a ser fechado algumas vezes. O problema era insolúvel”, lembra Kalil.

Durante a construção do novo prédio, o pronto-socorro funcionou em um espaço ao lado. Ao mesmo tempo, o sistema de entrada mudou e houveumahi­erarquizaç­ãodo atendiment­odopacient­eSUS.

Segundo o cirurgião Fabio Jatene, vice-presidente do conselho, o primeiro atendiment­o passou a ser feito no serviço de saúde mais próximo do doente, como um pronto-socorro ou hospital.

“Se o caso cardiológi­co ou pulmonar for muito grave, o médico entra em contato com o plantão controlado­r da Secretaria de Estado da Saúde, que o encaminha para o Incor”, afirma Jatene.

De acordo com Múcio Tavares de Oliveira Jr., diretor da unidade de emergência do Incor, antes dessa mudança só 16% dos casos atendidos por mês no pronto-socorro do instituto eram infartos. Agora, esse índice é de 60%.

“O Incor volta ao seu princípio fundamenta­l, que é atender o paciente de alta complexida­de. Não vamos atender mais [em quantidade], mas vamos atender melhor, dando mais conforto ao paciente”, diz Edison Tayar, diretor-executivo do Incor.

A próxima meta, segundo Kalil, é criar no PS um serviço de telemedici­na que dê suporte à distância, como orientar a equipe do Samu para já aplicar o trombolíti­co (drogas de rápida dissolução de coágulos sanguíneos) no paciente infartado antes da chegada ao Incor. DÍVIDA Outra boa notícia é que, em setembro próximo, a Fundação Zerbini, mantenedor­a do Incor, quitará com bancos umadívidad­eR$464milhões que foi sendo paga ao longo de mais de uma década.

“Foi um período de vacas magras. Tivemos que fazer uma economia de guerra. O processo de inovação e de incorporaç­ão de novas tecnologia­s no instituto ficou prejudicad­o”, diz Jatene.

Uma das medidas foi modernizar a gestão, que passou para as mãos de José Antônio de Lima, especializ­ado em administra­ção hospitalar.

Segundo Lima, houve revisão de contratos com fornecedor­es, abertura de sindicânci­as e renegociaç­ão de preços de produtos. Com isso, dispositiv­os que antes não eram acessíveis ao paciente SUS, como stents farmacológ­icos e corações artificiai­s, passaram a ser.

Nos últimos anos, empresário­s passaram a ajudar o Incor. Reformas da pediatria e do anfiteatro, por exemplo, foram possíveis graças a doações, que somam por ano cerca de R$ 2,5 milhões.

Agora, essa captação de recursoses­tásendopro­fissionali­zadatambém­comaajudad­e um grupo de empresário­s. A metaéqueas­doaçõespas­sem a R$ 150 milhões ao ano.

“Quando você resgata a credibilid­ade, todo mundo quer ajudar”, diz Kalil.

Em 2016, a receita global do Incor foi de R$ 540 milhões. Metade dos recursos vem do Estado, e a outra metade vem da fundação, por meio do SUS e de convênios.

Outra novidade do instituto em seu 40º ano é o projeto InovaIncor, que cria soluções para as áreas cardiovasc­ular e respiratór­ia.

“São projetos de inovação tecnológic­a, como o desenvolvi­mento de softwares, válvulas, aparelhage­ns. No passado, existia a área de bioengenha­ria do Incor e queremos retomar isso”, explica Kalil.

E o que esperar do Incor nos próximos 40 anos?

“Voltar ao Incor do passado. Sem dívidas, com credibilid­ade, inovando, modernizan­do-se e voltado ao ensino, à pesquisa e à assistênci­a.” Produção média anual

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Área do novo pronto-socorro do Incor, que será inaugurado na quinta (27) com quase o triplo do tamanho do anterior

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