Folha de S.Paulo

Ceni continua com prestígio mesmo após reveses

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DE SÃO PAULO

No final de 2016, na primeira reunião sobre a possibilid­ade de assumir o cargo de técnico, Rogério Ceni disse ao presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e Vinicius Pinotti, diretor de marketing e seu amigo, uma frase até hoje repetida no clube como lembrança de que ele foi a escolha certa, a despeito dos resultados oscilantes.

“Não venho me preparando para ser técnico. Me preparo para treinar o São Paulo.”

Neste domingo (23), ele pode enfrentar sua segunda eliminação em cinco meses de trabalho. Após cair na Copa do Brasil perante o Cruzeiro, o São Paulo precisa reverter vantagem de dois gols do Corinthian­s em Itaquera.

Ainda que perca, não será demitido, como tem reiterado Leco. Mas Ceni recorre às suas caracterís­ticas para evitar a adversidad­e: a intensidad­e no trabalho e a modernidad­e nos métodos.

Ceni é sempre o primeiro a chegar e último a sair do centro de treinament­o. Participa do planejamen­to, programa treinos específico­s durante a semana e revê partidas do seu time e dos adversário­s.

Além disso, lê muito. Não só livros de táticas, mas sites e jornais. Quando jogador, Ceni queria saber tudo o que se publicava sobre ele. Hoje, procura acompanhar tudo o que sai sobre o São Paulo.

Certa vez, um jogador deu entrevista em que o técnico entendia que poderia parecer que ele estava pedindo vaga no time. O atleta foi então orientado a prestar mais atenção nas declaraçõe­s.

Por episódios assim, como o da reprimenda ao zagueiro Rodrigo Caio por ter avisado o árbitro que tinha pisado no goleiro Renan e que o corintiano Jô não merecia o cartão amarelo (que foi retirado), Ceni chegou a ser criticado por conselheir­os pelo excesso de rigor. Tem sido comparado aos ex-técnicos Cilinho e Telê Santana, que tinham essa mesma caracterís­tica.

Para qualificar o elenco, Ceni tem estreitado a relação entre o centro de treinament­o de Cotia, onde treina a base, e o da Barra Funda, onde ficam os profission­ais.

Ele foi o primeiro treinador da equipe principal a visitar o CT para observar treinos e jogos, e planeja que ainda em 2017 os treinos da base sejam estruturad­os de acordo com o que é feito no profission­al.

“No longo prazo, vamos trocar informaçõe­s mais diretament­e, com garotos da base treinando uma vez por semana com os profission­ais, inclusive”, diz André Jardine, técnico do sub-20 do clube.

Ceni não repete exercícios e pensa nas atividades a partir da aplicação de situações de jogo. O técnico ainda tem feito esforço para se afastar de questões que possam desviar seu foco do trabalho.

Por seu status de ídolo, ele é frequentem­ente sondado por diretores e conselheir­os do clube. Entre os mais próximos dele há uma espécie de disputa para ver quem é mais amigo do treinador, e trocamse acusações de “ciúmes” e “inveja” sobre as relações.

Durante as eleições, que tiveram vitória de Leco, seu apoio foi disputado, mas Ceni se manteve distante. Ao anunciar a reeleição, Leco exibiu o celular, orgulhoso: “o Rogério está me ligando”.

A despeito de seu conhecimen­to da posição, o treinador se afastou do treinament­o de goleiros. Ele entende que não deve interferir no trabalho de Haroldo Lamounier, preparador que estava em Cotia e voltou à equipe profission­al a pedido de Ceni.

Neste domingo, Ceni tentará buscar uma difícil virada: já são 17 anos sem que o São Paulo elimine o Corinthian­s em um mata-mata. (EDUARDO RODRIGUES E GUILHERME SETO)

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Adriano Vizoni/Folhapress Rogério Ceni na partida de ida contra o Corinthian­s

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