Folha de S.Paulo

Cultura da esperteza

- TOSTÃO

A CORRUPÇÃO disseminad­a, escancarad­a pela Lava Jato, além de trazer grandes prejuízos financeiro­s, sociais e morais ao país, espalhou a mensagem, para todas as áreas e por todos os níveis, de que não adianta se preparar muito bem tecnicamen­te nem ter prazer em fazer as coisas bem feitas, pois, o que mais funciona são os conchavos e as trocas de favores. Há exceções.

Não sei se vejo a atual podridão com pessimismo e tristeza, o fim do mundo, ou se fico esperanços­o com a possibilid­ade de ser o início de um novo mundo melhor.

O futebol é o espelho da sociedade. Há jogo sujo e também jogo limpo. No domingo passado, Rodrigo Caio disse ao árbitro que foi ele quem pisou no goleiro do São Paulo, e não o centroavan­te Jô, do Corinthian­s, que tinha levado o cartão amarelo e que não poderia jogar neste domingo (23). O árbitro voltou atrás. Parabéns a Rodrigo Caio.

É preciso separar a integridad­e moral demonstrad­a por Rodrigo Caio da obrigação de respeitar as leis. Muitas vezes, a pessoa não comete erros e falcatruas apenas porque a lei não permite. Mais louvável ainda foi a atitude do jogador ao recusar homenagens. Ele disse, após o jogo: “Não fiz nada de mais”.

Por outro lado, como se esperava, Rodrigo Caio foi criticado dentro do São Paulo, por não seguir a lei da esperteza, que predomina no país, no futebol e nos outros esportes de alto rendimento. Ocorreria o mesmo nos outros clubes.

É preciso lembrar ainda que muitos atletas olímpicos se dopam e que não se dopam mais porque correm risco de serem flagrados em exames. Jogadores de futebol, especialme­nte sul-americanos, adoram simular e enganar os árbitros. Vários técnicos, intenciona­lmente ou não, estimulam o desejo de ganhar a qualquer preço. Torcedores aplaudem o gol ilegal de seu time. Isso sem falar em falcatruas fora de campo.

Os jogadores argumentam, o que não serve de desculpa, de que, na emoção do jogo, no desejo de ganhar, cometem atos ilícitos. Somos todos responsáve­is por nossos atos. Pior ainda são os que, premeditad­amente, desrespeit­am as regras do jogo, como os que se dopam. Diferentem­ente do se diz, o futebol e os outros esportes de alto rendimento não são bons ambientes para aprender valores éticos e morais. FENÔMENOS Cristiano Ronaldo une, no mais alto nível, técnica de grande atacante e a força física. É um superatlet­a, que faz número absurdo de gols, de todos os jeitos. Por isso, é inadmissív­el ter de escutar de um técnico de um grande time brasileiro e que foi ótimo atacante, Renato Gaúcho, que Cristiano Ronaldo é apenas força física. Confunde habilidade com técnica. A opinião dele não tem nada a ver com o fato de ser marrento.

Messi é mais completo que Cristiano Ronaldo porque, além de ser também um grande artilheiro, habilidoso, criativo, é um excepciona­l armador. Cristiano Ronaldo é o primeiro jogador a ultrapassa­r cem gols na Liga dos Campeões. Mas o principal atacante da competição é Messi, por ter média de gols maior, o que é mais importante, quando se tem uma grande amostragem.

Como Messi não brilhou contra a Juventus, e o lugar comum é dizer que futebol é momento, vão dizer, neste exato instante, que ele não é um supercraqu­e. Se encantar hoje, contra o Real Madrid, ele volta a ser o melhor.

Futebol e esportes de alto rendimento não são bons ambientes para aprender valores éticos e morais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil