CRÍTICA Longa ganha força ao captar o essencial
‘Cine São Paulo’ conta a história de proprietário que tenta salvar sua sala de cinema no interior
FOLHA
Sonhos, paixões, perdas, confrontos e, ocasionalmente, conquistas fazem parte da vidadetodomundo.Também são ingredientes comuns aos filmes. Não por acaso, o cinema se tornou a arte mais popular já inventada.
“Cine São Paulo” usa esse material para contar a história do proprietário de uma sala de cinema centenária em Dois Córregos, no interior paulista.
Seu Chico, como os diretores Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli apresentam sem muita reverência o protagonista, luta para reabrir a sala, construída em 1910, comprada pelo pai dele em 1940 e, mais tarde, mantida por ele com a ajuda da mulher e dos filhos.
A Justiça determinou o fechamento do espaço, que não mais cumpre as condições mínimas de segurança, e o dono junta suas economias para levar a cabo uma reforma cara.
Aos 72 anos, seu Chico precisa ainda convencer a mulher de que o investimento não é uma aventura de velho teimoso, um apego ao passado que se foi.
Os projetores ficaram ultrapassados, a estrutura elétrica está obsoleta, e a sala precisa de diversos itens de segurança. Pior, o público tem como ver filmes até em telas de celular.
Seu Chico revela, nas primeiras cenas, um sonho recorrente. Diz que entra no cinema, encontra tudo no lugar, mas os projetores não estão mais lá. “Tenho de marcar uma reunião com Freud”, pensa em voz alta.
Como dono da sala, seu papel principal era o de projecionista, um trabalho estafante e nada fascinante para alguém que não despista a paixão maior pelo cinema.
As anotações num livro de registros sobrepõem datas importantes, como a do nascimento de Chico e a do início de seu namoro, aos títulos dos filmes que estavam sendo exibidos naqueles dias. As memórias pessoais evocam os momentos de apogeu e de decadência da sala. Um precioso registro em vídeo revela como Chico se vê na imagem.
Nesse relato que confunde vida e cinema, “Cine São Paulo” ganha força ao captar o essencial, o combustível que move seu personagem, evitando, desse modo, diluir-se em banalidades ou só focalizar o edificante.
Sua qualidade não resulta apenas da história pronta para seduzir cinéfilos de todas as idades mas da combinação de drama, suspense, uma boa cena de conflito e fartas doses de empatia. Sem esquecer que pouca gente resiste a um final feliz. DIREÇÃO Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli PRODUÇÃO Brasil, 2017, livre QUANDO hoje, às 20h, no Reserva (SP); 25/4, às 17h, no Espaço Cultural BNDES (Rio); 28/4, às 20h, no CCSP (SP) AVALIAÇÃO muito bom
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