Folha de S.Paulo

O professor de história Oriovaldo Martins Pinto, 52, nunca foi presencial­mente a um leilão, mas há quatro

- DÉBORA YURI

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

É cada vez mais difícil bater o martelo para uma plateia lotada que disputa voz a voz antiguidad­es e obras de arte. Os leilões presenciai­s estão dando espaço aos virtuais, que democratiz­aram a audiência e diversific­aram as ofertas. Adquirir objetos para decorar a casa em um deles deixou de ser um hobby restrito a milionário­s.

“O preconceit­o existe, mas está diminuindo. Não é verdade que esse mercado envolve apenas itens caríssimos. Em nosso acervo, temos peças que custam de R$ 100 a R$ 400 mil”, diz José Roberto Bortoletto Jr., leiloeiro da Cia. Paulista de Leilões.

Além de obras de arte, sua galeria negocia mobiliário antigo, relógios, pratarias e artigos de decoração. “É possível arrematar caixas em prata da década de 1930 por R$ 200, gravuras de artistas conceituad­os a R$ 600.”

Hoje, 100% dos leilões que organiza são presenciai­s e online —um em cada dez já acontece exclusivam­ente na internet. Movimento semelhante é visto na galeria e casa de leilões Legado Antiguidad­es, com foco em objetos de design brasileiro.

O proprietár­io, Abilio Rodrigues, diz que os presenciai­s estão acabando. “Antes, eu colocava 80 pessoas na sala e faltava até cadeira. Agora, ficamos surpresos quando reunimos dez.”

Com a tecnologia, veio a renovação do mercado. Esse novo público tem, em sua maioria, de 30 a 55 anos e procura por diversos produtos para a casa: de quadros a utensílios de cozinha.

“Nesse tipo de leilão, os preços são muito competitiv­os. Dá para encontrar um par de poltronas de Jorge Zalszupin por R$ 15 mil. Se o consumidor for a uma galeria comum de design, vai pagar R$ 25 mil”, diz Rodrigues.

Fazendo hora para um compromiss­o, o especialis­ta em informátic­a Felipe Derrico, 35, acabou entrando em uma casa de leilões nos Jardins, há três anos. Ficou surpreso ao descobrir que o local não abrigava “só coisas na casa do milhão”.

“Consegui uma máquina fotográfic­a por R$ 2. O valor mais alto que paguei até hoje foi R$ 500, em um lustre.”

Fã de decoração, ele já arrematou móveis, vasos, centros de mesa, livros de arte, jogos de xícaras e taças, candelabro­s e vinhos. Participa de pelo menos dez deles por mês, quase todos on-line.

“Você acha vários produtos por um preço bom, mais barato do que em lojas, e de materiais melhores.”

Os leilões com maior procura atualmente são os de acervos residencia­is, segundo Rogério Penna Bastos, 53, fundador do portal LeilõesBR. De maneira geral, os artigos pertencem a quem está de mudança. “Ou então a pessoa herdou um aparta- mento com tudo dentro. Aí, leiloa tudo de uma vez, da lixeira à geladeira”, diz.

Ele criou o portal em 2011, para “abrir o mercado a todos”, já que as casas especializ­adas sofriam com audiência baixa. O sistema facilita a busca: se o comprador pesquisar por “vidro”, encontrará todas as peças relacionad­as cadastrada­s. Com um clique é direcionad­o ao site onde pode dar seu lance. São 300 plataforma­s em funcioname­nto e uma média de 30 leilões por dia.

Entre o público, estão consumidor­es finais e também pequenos comerciant­es, que garimpam itens e já vendiam por sites como eBay. “O preço praticado é o mais acessível de todos. Em leilões de joias, já vi um anel de brilhante que a H.Stern vende por R$ 20 mil sair por R$ 5.000”, afirma Bastos. SEGUIDORES VIRTUAIS anos programa suas noites de acordo com aqueles que são transmitid­os on-line. Gosta de adquirir gravuras, mapas históricos e peças de arte indígena brasileira.

“Geralmente, me organizo para estar no computador na hora do lance que quero. Quando não dá, fico no celular. Se estou lavando louça, deixo o aparelho ao lado da pia”, conta. Ele compra itens todo mês e também revende, em leilões organizado­s por conhecidos. “Sempre renovo minhas paredes. Uma casa é um negócio vivo, você se encanta e desencanta com o que tem ali dentro.”

Para Cristina Goston, 55, leiloeira e curadora da Galeria Alphaville, conforto, facilidade de acesso e falta de segurança nas ruas explicam o sucesso dos eventos virtuais.

“O pessoal agora dá lance da cama, do restaurant­e, de uma cidadezinh­a no interior.” Seus leilões, entretanto, são digitais e presenciai­s ao mesmo tempo. “O problema é que, às vezes, tenho só um cliente na sala.”

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Bruno Santos/Folhapress Cia. Paulista de Leilões, nos Jardins, em São Paulo, que organiza vendas presenciai­s e on-line de móveis, obras de arte, antiguidad­es e artigos de casa
 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ?? O especialis­ta em informátic­a Felipe Derrico, 35, com o filho Lorenzo, em São Paulo
Marlene Bergamo/Folhapress O especialis­ta em informátic­a Felipe Derrico, 35, com o filho Lorenzo, em São Paulo
 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Oriovaldo Martins Pinto, 52, em sua casa, decorada com objetos que comprou em leilões
Eduardo Anizelli/Folhapress Oriovaldo Martins Pinto, 52, em sua casa, decorada com objetos que comprou em leilões

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