Folha de S.Paulo

CRÍTICA Heigl se sai bem como vilã, mas não salva filme

Embora atriz de comédias românticas convença no papel da ex neurótica, trama de ‘Paixão Obsessiva’ desanda logo

- MARINA GALEANO AVALIAÇÃO S

FOLHA

Já à primeira vista, a história se mostra pouco inovadora. Mulher atormentad­a por lembranças de ex violento encontra um príncipe encantado e a chance de uma vida livre dos fantasmas do passado.

O problema é que o tal príncipe não anda sozinho. Traz a tiracolo uma ex-mulher linda e louca, capaz das maiores atrocidade­s para acabar com a rival.

Resumidame­nte, está aí a trama que tenta fazer de “Paixão Obsessiva” um suspense dramático.

A receita, porém, desanda rápido. Até mesmo os mais distraídos conseguem antecipar os passos de um roteiro tão sutil quanto um elefante, impregnado por clichês e vícios do gênero.

Em sua estreia como diretora, Denise Di Novi —produtora experiente— erra a mão nos ingredient­es: economiza no suspense e banaliza o drama. O resultado final não fica devendo a nenhum novelão mexicano.

Julia (Rosario Dawson) abdica da promissora carreira de editora, na esperança de apagar um passado marcado pelas agressões do antigo parceiro. Inevitável não se lembrar de Slim, garçonete interpreta­da por Jennifer Lopez em “Nunca Mais” (2002), também acuada por um marido violento.

A grande diferença entre as duas é que, enquanto Slim continua tendo de fugir das perseguiçõ­es do ex, Julia conhece David (Geoff Stults), um namorado exemplar que se torna seu porto seguro.

Mas a sorte da jornalista vira pó quando a maquiavéli­ca Tessa (Katherine Heigl) dá o ar da graça.

Inconforma­da com o divórcio, a ex-mulher do sonso-bonitão não mede esforços para transforma­r a vida da adversária num verdadeiro inferno.

E talvez esse seja o único ponto do filme capaz de causar algum tipo de surpresa no público —a atuação de Katherine Heigl.

Habitué de comédias românticas e afins, a atriz se esforça para sair da zona de conforto e convencer na pele da psicopata.

Aqueles acostumado­s a vê-la em papéis como o da encalhada Jane Nichols, de “Vestida para Casar” (2008), ou de Alison Scott em “Ligeiramen­te Grávidos” (2007) deverão reconhecer tal empenho no olhar perturbado, nas expressões dissimulad­as e no comportame­nto macabro de Tessa.

Pena que, diante de um enredo absolutame­nte capenga, esse esforço é em vão.

A partir da metade do longa, a coisa descamba para uma sucessão de reviravolt­as espalhafat­osas que subestimam a inteligênc­ia do espectador.

Na contramão de seu título original (“Unforgetta­ble”), “Paixão Obsessiva” é daqueles filmes fadados ao esquecimen­to tão logo os créditos se desenrolam na tela. (UNFORGETTA­BLE) DIREÇÃO Denise Di Novi ELENCO Rosario Dawson, Katherine Heigl, Geoff Stults PRODUÇÃO EUA, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ruim

 ?? Karen Ballard/Divulgação ?? As atrizes Katherine Heigl, Isabella Kai Rice (ao centro) e Rosario Dawson em cena do suspense dramático ‘Paixão Obsessiva’
Karen Ballard/Divulgação As atrizes Katherine Heigl, Isabella Kai Rice (ao centro) e Rosario Dawson em cena do suspense dramático ‘Paixão Obsessiva’

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