Folha de S.Paulo

TINHA TUDO PARA DAR ERRADO

Uma boa ideia pode resistir a falhas geradas pela inexperiên­cia; capacidade de adaptação e rapidez no aprendizad­o são fundamenta­is para alcançar o sucesso

- ANNA RANGEL GILMARA SANTOS

FOLHA

Não faltam consultore­s para explicar ao empreended­or de primeira viagem como montar sua empresa. As orientaçõe­s são mais ou menos parecidas: deve-se planejar as finanças, observar a concorrênc­ia e criar um plano de negócios viável.

Mas há quem, por desconheci­mento ou pressa, ignore alguns desses conselhos e mesmo assim seja bem-sucedido na empreitada.

Em geral, o que une esses empreended­ores “sortudos” é a capacidade de se adaptar rápido, de aprender com os erros e de enxergar um nicho de atuação promissor.

O ex-garçom Paulo da Silva, 42, dono de uma pequena pizzaria no Morumbi (zona sul de São Paulo) desde 2007, achava que seu produto venderia na região, predominan­temente residencia­l.

Ele estava certo: hoje, a empresa cresce 20% ao ano. Silva atribui o sucesso a preços competitiv­os, ingredient­es de qualidade e atendiment­o cuidadoso. “Somos uma pizzaria de bairro, procuro tratar os clientes como amigos. Acho isso vital.”

A trajetória teve percalços. Silva abriu o negócio sem fazer muitos planos ou contas, quando tinha apenas o contrato de aluguel do ponto em mãos. “Saí em busca de um pizzaiolo, montei um cardápio e iniciei a reforma.”

A falta de planejamen­to ao criar a empresa fez o exgarçom acumular despesas que sugaram suas reservas em apenas oito meses, antes de a pizzaria dar lucro.

“Comecei errado e não me estruturei. O resultado foi desesperad­or”, afirma Silva.

A saída foi recorrer à consultori­a gratuita do Sebrae em São Paulo, que diagnostic­ou problemas de gestão, precificaç­ão e marketing.

Para Carlos Caldeira, doutor em administra­ção e professor do Insper, cabe ao empreended­or rever os planos caso suas hipóteses em relação ao mercado não se confirmem. Essa mudança, no jargão dos consultore­s, é chamada de “pivotação”.

“Não se pode criar um plano difícil de mudar logo de cara, já que em muitos casos a primeira ideia não será perfeita”, diz Caldeira.

É o que preconiza o “lean start-up”, metodologi­a que defende substituir relatórios de mercado muito fechados por uma tela em branco emqueoempr­eendedorpo­ssa colocar suas ideias e ter espaço para mudá-las.

Mas isso não significa que basta jogar proposiçõe­s vagas ali, diz Alexssandr­o Mello, coordenado­r da pós em administra­ção de PMEs da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção). “É preciso estudar um pouco de tudo para que as decisões sejam corretas: operações, marketing, gestão e finanças.”

Prever de onde virá o dinheiro para bancar os primeirosm­esesdaempr­esafaz parte do aprendizad­o. Segundo Caldeira, a principal fonte de financiame­nto é o dinheiro de parentes e amigos. “O acesso ao crédito é limitado e caro no Brasil.”

Pedir emprestado foi a solução do programado­r Márcio Motta, 36, da plataforma de vendas on-line Monetizze, aberta em 2015. “No início, precisei recorrer a dois amigos para pagar despesas como a do servidor”, diz.

Quando teve que devolver os R$ 50 mil, Motta encontrou problemas e precisou buscar um novo sócio. O escolhido foi um antigo chefe, que recebeu uma participaç­ão de 9% da nova empresa.

Foi quando a Monetizze, que não revela seu faturament­o, ganhou fôlego. A empresa teve cresciment­o de 60% ao mês em 2016 e já atende 500 mil usuários.

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Bruno Santos/Folhapress O empresário Paulo da Silva em frente ao forno de sua pizzaria, no bairro do Morumbi

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