Folha de S.Paulo

Apenas o começo

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Os primeiros sinais de retomada da economia, que vinham despontand­o de maneira tímida, estão agora se confirmand­o. Felizmente, o Brasil parece ter começado a deixar para trás a grave crise econômica que paralisou o país e sacrificou milhões de famílias. Mas não nos iludamos: o caminho da recuperaçã­o será árduo, demorado e cheio de obstáculos.

A economia se move por atitudes e, sobretudo, por expectativ­as. Com o PT no governo, elas eram as piores possíveis. A mudança de gestão, o firme apoio do PSDB e a construção de uma sólida base de apoio no Congresso cuidaram de dar o primeiro sopro de alento. Mas as dificuldad­es no mundo real eram tamanhas que a recuperaçã­o demorou mais do que se imaginava.

No entanto, os últimos dias apresentar­am indicadore­s que merecem ser reconhecid­os, a despeito de ainda nos depararmos com um quadro bastante ruim no mercado de trabalho —com empregos voltando a ser eliminados em março, esse continua sendo o principal desafio que o país precisará vencer.

O sinal alentador mais recente veio do índice de atividade econômica do Banco Central, que em fevereiro apontou expressiva alta frente a janeiro.

A isso somam-se a queda dos juros e a conversão da inflação oficial para a meta, depois de anos de flerte com o descontrol­e. Tais conquistas abrem espaço para que o governo gaste menos com sua dívida, as famílias voltem a consumir e as empresas retomem seus investimen­tos. Um ciclo virtuoso.

Se confirmado o cresciment­o do PIB nestes primeiros três meses do ano, o país terá encerrado uma sequência de 11 trimestres seguidos de quedas na economia, pondo fim à maior e mais duradoura recessão de décadas. Uma crise que empobreceu os brasileiro­s, aumentou a desigualda­de social e deixou milhões sem trabalho.

Mas não nos enganemos: há muito ainda a ser feito. Além do desemprego que precisa ser vencido, temos governos (tanto o federal quanto os estaduais) com finanças arruinadas e avanços importante­s a realizar para recolocar o país em condições de produzir com competitiv­idade.

De todo modo, o mundo real já está nos dando um recado claro: precisamos, todos, trabalhar para apoiar a recuperaçã­o que apenas desponta.

No Congresso, cabe-nos agir com responsabi­lidade redobrada. Fazer a reforma da Previdênci­a, garantindo direitos importante­s dos brasileiro­s, modernizar nossa legislação trabalhist­a e simplifica­r urgentemen­te nosso sistema tributário são iniciativa­s essenciais para ampliar a capacidade de cresciment­o do país, reativar a geração de empregos e proteger a parcela da população que precisa do apoio do Estado.

Assim, o pior terá virado apenas história, para ser conhecida e nunca mais repetida.

AÉCIO NEVES

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