Folha de S.Paulo

Interesses cruzados

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A linha de corte criada por Michel Temer para definir a vida de ministros implicados pela Odebrecht deu certo fôlego ao Planalto, mas entregou à Procurador­ia-Geral da República responsabi­lidade sobre o futuro do governo.

A regra tem preservado os ministros investigad­os, mesmo que, para abertura dos inquéritos, o Supremo tenha considerad­o a existência de indícios de que cometeram crimes.

Pelos critérios do presidente, o ministro que for denunciado pela PGR será afastado temporaria­mente. A demissão deve ocorrer no caso de o Supremo transformá-lo em réu.

Oito ministros estão na lista de inquéritos. É improvável que o tribunal julgue até o fim de 2018 possíveis denúncias contra todos eles.

A regra de Temer é frágil porque, uma vez fora do governo, dificilmen­te um ministro retorna. O presidente sabe que uma denúncia da PGR, e não uma decisão do STF, pode estabelece­r quem sai da Esplanada.

Reportagem da Folha deste domingo (23) mostrou que Temer pretende indicar um aliado do procurador-geral, Rodrigo Janot, à sucessão do próprio, marcada para setembro.

Janot poupou o presidente dos inquéritos da Odebrecht por considerar que ele tem “imunidade temporária” no cargo. O peemedebis­ta é citado como personagem de reunião vinculada a acerto de propina.

O procurador tem feito circular a versão de que não quer um terceiro mandato. Seus aliados agem nos bastidores para garantir o substituto, enquanto os adversário­s de Janot na procurador­ia articulam nomes.

Temer vai escolher um dos indicados da listra tríplice da associação de procurador­es, sem precisar optar pelo mais votado pela classe.

Em meio a reformas importante­s no Congresso, o presidente quer segurar até quando for possível ministros de peso e sob investigaç­ão, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.

E não interessa ao grupo de Janot dentro da PGR perder a condução da Lava Jato a partir de setembro.

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