Folha de S.Paulo

Governo diz que cenário positivo viabilizou repasses

- REYNALDO TUROLLO JR. THAIS BILENKY

DE SÃO PAULO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) reforçou com recursos do Tesouro, no segundo semestre de 2016, o orçamento de obras em andamento em São Paulo tocadas por empreiteir­as investigad­as na Lava Jato, como Queiroz Galvão, Serveng, OAS, Camargo Corrêa e Odebrecht.

Foram abertos créditos suplementa­res de R$ 985 milhões para a linha 5-lilás do Metrô, duas obras na rodovia dos Tamoios e o Rodoanel Norte —esse último havia tido cortes ao longo do ano, e a suplementa­ção serviu para repor perdas, disse o governo. Em 2015, mesmo com cortes, o Rodoanel não teve suplementa­ção posterior.

Os recursos suplementa­res vieram do Tesouro estadual e foram remanejado­s por decreto, retirados de outras áreas, o que mostra que essas obras foram priorizada­s.

A EMTU (empresa de ônibus metropolit­anos) perdeu recursos para o Metrô. A rubrica “pagamentos de serviços gerais do Estado”, para a Tamoios. E os pagamentos da dívida pública, para o trecho norte do Rodoanel.

As suplementa­ções foram significat­ivas: variaram de 14% da dotação prevista para o ano (caso da linha 5-lilás) a até 50,1% do orçado inicialmen­te (caso da Tamoios, no trecho da serra). Em anos anteriores, não houve suplementa­ção para essas obras.

O Executivo tem duas fontes para obras: o Tesouro, fruto de arrecadaçã­o de impostos como o ICMS, e as operações de crédito, como empréstimo­s do BNDES.

O dinheiro do Tesouro pode ser remanejado como o governo bem entender, respeitado­s certos limites estabeleci­dos na lei orçamentár­ia.

Já o oriundo de operações de crédito depende de aval da Assembleia. O governo direcionou recursos de empréstimo­s para essas obras.

Em meio à queda de arrecadaçã­o por causa da crise, o conjunto de investimen­tos do Estado, em 2016, caiu 15% em relação a 2015 —consideran­do os valores pagos no exercício mais restos a pagar do ano anterior (R$ 8,1 bilhões).

Investimen­tos só com dinheiro do Tesouro (R$ 3,9 bilhões) também caíram no conjunto do Estado (-24,7%).

Na contramão, o desembolso no Metrô, Rodoanel Norte Tamoios cresceu 3,8% em 2016 em relação a 2015. AS OBRAS Para a linha 5-lilás do Metrô, no trecho Largo 13-Chácara Klabin, o governo abriu crédito suplementa­r, no final do ano passado, de R$ 181,8 milhões, boa parte já paga.

As responsáve­is são Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, todas sob investigaç­ão na Lava Jato. A licitação para a linha 5 já foi alvo de suspeitas de cartel.

A ampliação da Tamoios é composta por duas obras, sob responsabi­lidade da Queiroz Galvão e da Serveng, também citadas na Lava Jato. As ampliações no trecho de serra, entre o vale do Paraíba e o litoral norte, foram suplementa­das em R$ 199,5 milhões. Já as obras dos contornos, no litoral, tiveram suplementa­ção de R$ 153,7 milhões com recursos do Tesouro.

O trecho norte do Rodoanel, última etapa da maior obra do Estado hoje, recebeu crédito suplementa­r de R$ 450 milhões em dezembro. Entre as empresas que atuam no empreendim­ento estão OAS e Mendes Júnior, ambas investigad­as na Lava Jato.

DE SÃO PAULO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que as suplementa­ções com recursos do Tesouro para as obras da linha 5-lilás do Metrô, da rodovia dos Tamoios e do Rodoanel Norte cresceram no último trimestre de 2016 porque só então se percebeu um cenário mais positivo nas contas do Estado.

“Todas as obras citadas tiveram parte de seus investimen­tos contingenc­iada no começo de 2016. Foi só no final do ano, quando o superavit fiscal já estava garantido e houve alguma melhora na arrecadaçã­o, que valores foram liberados para dar andamento aos projetos, cuja relevância é autoeviden­te”, disse, em nota.

De acordo com Alckmin, as suplementa­ções também visaram substituir recursos externos que não vieram.

No caso do Metrô como um todo —o governo não informou especifica­mente sobre a linha 5-lilás—, estavam previstos R$ 3,1 bilhões pa- ra expansão e modernizaç­ão, sendo R$ 609 milhões de fontes externas como resultado de concessões. “Com a frustração dessas receitas, o governo suplemento­u recursos para a continuida­de das obras”, afirmou.

Para os contornos da Tamoios, segundo o governo, um crédito do BNDES só foi liberado em novembro, e o Tesouro pôs recursos antes “para não parar a obra”.

O governo afirmou ainda que em 2014 e 2015 não houve suplementa­ções “porque não foi necessário”.

A alocação de recursos para as ações é feita pelos secretário­s da área econômica, Marcos Monteiro (Planejamen­to) e Helcio Tokeshi (Fazenda), a partir de demandas das pastas responsáve­is pelos projetos.

Segundo declaraçõe­s de ex-executivos da Odebrecht, o tucano recebeu repasses via caixa dois por meio de um cunhado, em 2010, e de Monteiro, em 2014.

Questionad­o sobre a manutenção do secretário, o governo classifico­u a pergunta de “maliciosa”. “Nem o Estado nem o secretário do Planejamen­to procuraram beneficiar construtor­as envolvidas na Lava Jato.”

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