Folha de S.Paulo

A crise no PSDB

- CELSO ROCHA DE BARROS

A DELAÇÃO da Odebrecht quebrou todos os grandes caciques do PSDB. Aécio, Alckmin e Serra foram delatados. Como em todos os casos, as denúncias ainda precisam ser investigad­as, mas é difícil imaginar um presidenci­ável em 2018 com essa bagagem (com a possível exceção desse aí que você pensou). O PSDB nunca foi, como o PT, um partido de movimentos: era um partido de grandes quadros. A queda de seus principais nomes é, portanto, especialme­nte ruim para os tucanos. Quando um partido de quadros começa a levar João Doria a sério é porque as coisas vão bem mal.

Será uma pena se o PSDB acabar, e digo isso como alguém que votou contra os tucanos desde sempre. Como já escrevi uma vez aqui na “Ilustríssi­ma” (folha.com/no1680458), o PSDB foi o grande condutor da centro-direita brasileira em direção à democracia moderna. Era um partido de opositores da ditadura, derrotou a hiperinfla­ção e, em 1994, conquistou a única vitória indiscutív­el, categórica, de craque, da direita brasileira em uma eleição presidenci­al.

A mesma direita deveria ter levado em conta, nos pleitos seguintes, que nem sempre as exigências da macroecono­mia e da distribuiç­ão de renda coincidiri­am tão perfeitame­nte quanto em 1994. Mas isso é outra história.

As origens social-democratas do PSDB não prevalecer­am no desenvolvi­mento posterior do partido, mas deixaram sua marca. O governo FHC teve bons resultados na educação básica e na redução da mortalidad­e infantil e nunca teve aqueles deslumbram­entos de mercado que muitos países tiveram nos anos 1990 (incluídos, aí, os países ricos que desregulam­entaram seus mercados financeiro­s).

Se você duvida do papel histórico fundamenta­l desempenha­do pelos tucanos na história brasileira, olhe para o resto de nossa direita. Há no DEM quadros qualificad­os, mas inteiramen­te dedicados a defender seus interesses de classe, como Ronaldo Caiado. E daí para lá não há quem consiga dizer qual das suas pernas é a direita em duas tentativas, já descontado­s aqui os que perguntari­am “dianteira ou traseira?”.

Não há nada em nenhuma vertente do pensamento de direita, seja liberal ou conservado­r, que faça o sujeito ser burro, muito pelo contrário. Mas o que faz a direita brasileira ser esse negócio que faria Adam Smith ou Edmund Burke entrarem para o PSOL é o histórico de viradas de mesa em seu favor.

Se na hora do aperto for possível chamar o Exército ou os corruptos do PMDB para resolverem a parada, ninguém vai se preocupar em produzir líderes e intelectua­is capazes de vencer na democracia. Ninguém aprende a brigar se sempre puder chamar o irmão mais velho.

Não é por acaso, portanto, que o auge da direita democrátic­a brasileira tenha se dado sob a liderança de um partido desgarrado da esquerda, que aprendeu, no combate à ditadura, o peso de falar como líder. A velha direita brasileira não foi formada para ser líder, foi feita para puxar saco de general.

Na introdução de seus “Diários da Presidênci­a” (Companhia das Letras), Fernando Henrique Cardoso lamenta que seu projeto de modernizaç­ão tenha sido feito em aliança com o atraso.

O PT poderia dizer a mesma coisa, e as denúncias recentes mostram que ambos se deixaram colonizar pelo atraso muito mais do que gostam de admitir. O problema é que, desde que PT e PSDB entraram em declínio, o atraso governa cada vez mais sozinho.

Se na hora do aperto for possível chamar o Exército ou o PMDB, ninguém vai produzir líderes capazes

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