Folha de S.Paulo

Tratado como candidato

- THAIS BILENKY

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem usado sua cota parlamenta­r para custear viagens pelo país em que se apresenta como pré-candidato à Presidênci­a em 2018.

A cota reembolsa viagens e outras despesas do mandato. Nas regras de uso, a Câmara diz que “não serão permitidos gastos de caráter eleitoral”.

O conteúdo das falas de Bolsonaro, contudo, é explicitam­ente voltado à disputa de 2018, em que aparece com 9%, segundo mostrou o Datafolha em dezembro.

Nos últimos cinco meses, ao menos seis viagens em que o deputado tratou publicamen­te de sua intenção de concorrer ao Planalto foram custeadas pela Câmara. SomamR$22mil.

Mesmo em cidades onde ele não deu palestras, um roteiro se repetiu: chegada no aeroporto recepciona­do por uma claque aos gritos de “mito” e “Bolsonaro presidente”.

O deputado nega estar em campanha e atribui as viagens à participaç­ão na Comissão de Segurança Pública da Câmara —onde é suplente.

Em novembro, a Câmara gastou R$ 2.500 para Bolsonaro ir ao Recife, onde deu palestra na Associação Pernambuca­na dos Cabos e Soldados. Foi apresentad­o como “futuro presidente do Brasil, o nosso mito”. Na ocasião, Bolsonaro disse que “vamos ganhar em 2018, porque somos a maioria no Brasil, homens de bem”.

Dias depois, ele viajou a Boa Vista (RR) por R$ 4.500, acompanhad­o de um assessor, cujas passagens, de R$ 4.000, também foram pagas com a cota parlamenta­r.

Lá, deu entrevista­s e uma palestra promovida pelos sindicatos dos policiais civis e o dos federais de Roraima. No aeroporto, falou da necessidad­e de controlar a entrada de venezuelan­os no Estado.

“Não estou em campanha, mas estou me preparando para, se o momento exigir, não ser mais um capitão, mas um soldado a serviço de vocês.”

Em dezembro, ele pôs na conta da Casa R$ 1.385 para ir a São Paulo dar uma entrevista ao programa “Pânico no Rádio”, em que disse que “a minha ascensão é no vácuo político que está aparecendo”. Era o encerramen­to da “semana dos presidenci­áveis” do programa.

Em janeiro, foi à formatura de soldados da PM em Belo Horizonte. As passagens de ida e volta saíram da cota parlamenta­r por R$ 715.

No aeroporto, afirmou que “o Brasil tem jeito”, só “precisa de um capitão”. “Por coincidênc­ia eu sou capitão.”

Em fevereiro, Bolsonaro foi a Campina Grande e João Pessoa. As passagens custaram R$ 1.700. O gabinete arcou também com a viagem de um acompanhan­te, de R$ 1.900.

Em março, o deputado foi a São Paulo para encontrar um professor da Universida­de Mackenzie especialis­ta em grafeno, material constituíd­o de carbono que faz parte de sua “plataforma” de inovação. As passagens custaram R$ 4.600, e a diária de hotel, R$ 280, pagos com a cota.

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Pedro Ladeira - 19.abr.2017/Folhapress Bolsonaro em evento no colégio militar de Brasília no dia 19

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