Folha de S.Paulo

ANÁLISE Votação pode dar fim a ciclo social-democrata europeu

- MATHIAS DE ALENCASTRO

FOLHA

O primeiro turno das eleições ficará na história como o atestado de óbito do Partido Socialista francês. A porcentage­m de 6,35% de votos de seu candidato, Benoît Hamon, tem como efeito imediato uma implosão da socialdemo­cracia francesa.

O grupo se reorganiza­rá em torno da extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon e do centrista Emmanuel Macron. Se o colapso do Partido Trabalhist­a britânico se confirmar nas eleições de junho, os próximos meses poderão encerrar o ciclo das sociais-democracia­s europeias iniciado na Segunda Guerra Mundial.

A vitória de Macron é resultado da sua ousadia em armar uma candidatur­a sem partido, mas também de um conjunto de circunstân­cias totalmente imprevisív­el.

Primeiro o abandono de François Hollande, primeiro presidente a não tentar se reeleger. Depois o descalabro de François Fillon, candidato do Republican­os (direita), atingido por escândalos.

Macron avançou porque os outros fracassara­m e agora tem pela frente a missão de salvar a República Francesa, o euro e a União Europeia de Marine Le Pen. Uma missão longe de ser impossível. Afinal, Le Pen teve um desempenho abaixo das expectativ­as e a sua reserva de votos para o desempate é limitada.

Existe o risco de que parte do eleitorado de Fillon se disponhaav­otarnela.Adeclaraçã­o de apoio do conservado­r a Macron deve ajudar a atenuar a migração do seus eleitores para a candidata.

A principal ameaça à vitória de Macron é a abstenção. A exclusão dos dois principais partidos do segundo turno obrigará a classe política a se digladiar por um lugar ao lado do futuro presidente.

O espetáculo desmoraliz­ante das divisões do Partido Socialista e da disputa interna do Republican­os agudizará o desgosto dos franceses pelos políticos e provocará, de quebra, o aumento da rejeição e do voto em Le Pen.

Nesse contexto, o principal desafio de Macron será mostrar aos eleitores que, depois deeleito,elenãoverá­seugoverno ser canibaliza­do pelos que o atacaram até hoje.

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