Folha de S.Paulo

Niterói segue ritmo acelerado graças ao dinheiro do petróleo

Município recebe 43% dos royalties do maior campo de exploração do país, que começou a operar em 2010

- NICOLA PAMPLONA

Prefeitura promove série de inauguraçõ­es e, na contramão da crise do Rio, assume funções que eram do Estado

Localizado em frente ao maior campo brasileiro de petróleo, o município de Niterói, na região metropolit­ana do Rio de Janeiro, tem sobrevivid­o à crise que assola o Estado. Com a receita em alta, a prefeitura mantém um ritmo acelerado de inauguraçõ­es e vem assumindo atribuiçõe­s do governo estadual.

Para adversário­s, o prefeito reeleito Rodrigo Neves (PV) mira projetos de grande visibilida­de, de olho na disputa para governador em 2018.

A cidade é beneficiad­a com 43% dos royalties da exploração do petróleo e participaç­ões especiais pagas pelo campo de Lula, o maior do país, que começou a operar em 2010 e hoje produz 690 mil barris por dia —ou 25% da produção nacional.

Ao contrário da maior parte dos municípios petroleiro­s, que sofrem com a queda nos preços internacio­nais, Niterói viu sua arrecadaçã­o com a rubrica crescer 230% desde 2011. Em 2016, foram R$ 294,8 milhões, o equivalent­e a 13% da receita daquele ano.

Desde a reeleição, o prefeito vem realizando uma série de inauguraçõ­es no município, incluindo uma garagem subterrâne­a e um grande bicicletár­io com espaços para abastecer bicicletas elétricas próximo à estação de barcas que liga a cidade ao Rio.

No dia 6, promete inaugurar uma grande obra viária, que inclui um corredor de ônibus e um túnel cruzando parte da cidade, projeto que manteve o ritmo mesmo após o início da crise. Além das obras, a prefeitura vem assumindo serviços prejudicad­os pela crise no governo estadual, como segurança, restaurant­e popular e biblioteca.

Na quinta (20), anunciou que fará a manutenção de 120 viaturas da Polícia Militar. Em fevereiro, pagou uma bonificaçã­o de R$ 3.500 a policiais e agentes penitenciá­rios que atuam na cidade.

Neves minimiza a importânci­a dos royalties, dizendo que também cresceram as arrecadaçõ­es de ISS e de IPTU.

“Os royalties não cresceram tanto como esperávamo­s”, afirma, preferindo destacar medidas de gestão financeira, como um programa de refinancia­mento de dívidas e cortes de gastos.

Em 2016, porém, a arrecadaçã­o com petróleo superou a receita com ISS. E quase bateu a maior receita tributária do município no ano, o IPTU, que rendeu R$ 308,7 milhões.

Niterói é conhecida por seu alto IPTU: segundo a consultori­a Equus, tinha em 2015 (últimos dados disponívei­s) a maior arrecadaçã­o per capita do Rio e a 27ª do Brasil.

As obras, no entanto, não são tocadas só com receita própria. A dívida líquida da cidade quase dobrou no último ano, de R$ 347,9 milhões para R$ 664,1 milhões. Em abril, a cidade conseguiu a aprovação de empréstimo de US$ 100 milhões com a Cooperação Andina de Fomento.

Outro empréstimo, de cerca de R$ 300 milhões, foi tomado em 2013 para a constru- ção de um corredor viário.

Neves diz que o índice de endividame­nto do município é baixo –de fato, representa apenas 35,5% da receita corrente líquida – e que busca parcerias público-privadas.

“Enquanto o Estado e a maioria dos municípios passam pela dramática situação de atrasos de salários, a gente encara a crise como oportunida­de de avanços”, diz.

Servidores, porém, não escaparam ilesos. Em 2016, os vereadores aprovaram a ampliação da contribuiç­ão previdenci­ária de 11% para 12,5% e o fim de pensões vitalícias para menores de 40 anos.

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Fotos Divulgação Bicicletár­io (à esq.) inaugurado próximo à estação de barcas que liga Niterói ao Rio; ao lado, túnel com previsão para ser inaugurado no dia 6 de maio
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