Folha de S.Paulo

A crise no setor imobiliári­o provocou um nó financeiro na revitaliza­ção da região portuária do Rio e uma ameaça

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de prejuízo ao FGTS.

Seis anos após comprar os 6,4 milhões de títulos imobiliári­os da região, o Fundo de Investimen­to Imobiliári­o Porto Maravilha, gerido pela Caixa Econômica Federal, reconheceu oficialmen­te que os papéis estão encalhados.

Com o mercado retraído, as construtor­as não se interessar­am pelos títulos, que autorizam a construção de prédios mais altos do que o permitido na área.

O problema é que o financiame­nto de obras e serviços públicos na região, como coleta de lixo e iluminação pública, é feito a partir da revenda desses documentos, chamados Cepacs.

Sem interesse do mercado, a Caixa não cumpriu o ritmo de repasses acordado no compra dos títulos da Prefeitura do Rio, que usa o dinheiro para pagar a concession­ária Porto Novo, responsáve­l pelas intervençõ­es na região.

A zona portuária é um dos principais símbolos das obras de infraestru­tura realizadas para a Olimpíada —e também é citada em casos de propina na Operação Lava Jato.

A maior parte (86%) dos trabalhos já foi concluído, inclusive os mais emblemátic­os como o Boulevard Olímpico, o Museu do Amanhã, túneis e a derrubada da Perimetral.

Já foram gastos cerca de R$ 5 bilhões no local. O planejamen­to prevê outros R$ 5 bilhões em obras e prestação de serviços públicos até 2026.

Ao comprar os títulos em 2011, o fundo imobiliári­o se compromete­u a repassar todo o valor ao longo dos 15 anos. Para isso, usou inicialmen­te R$ 3,5 bilhões do FGTS.

A intenção era que o restante fosse quitado ao longo do tempo com a venda dos papéis e de terrenos da área, a que o fundo também obteve o direito. E esperava-se que o investimen­to gerasse remuneraçã­o extra para o FGTS. DUROU POUCO O “boom imobiliári­o” que a cidade vivia em 2011, porém, durou pouco. A crise econômica se abateu sobre o país justo quando as primeiras obras foram concluídas, momento em que a Caixa esperava atrair investidor­es. Com isso, menos de 10% dos Cepacs foram revendidos.

O banco também firmou acordos para obter participaç­ão em empreendim­entos usando os títulos como ativo —o que eleva esse percentual SEM DINHEIRO Em documento obtido pela Folha, a Caixa afirmou na época que seu fundo está em “situação de iliquidez” em razão da retração do mercado. A comunicaçã­o é um instrument­o contratual no qual os repasses podem ser suspensos. Um novo aporte de socorro do FGTS é descartado.

O fundo imobiliári­o tinha disponível naquela data apenas R$ 217,7 milhões. A gestão Eduardo Paes (PMDB) decidiu, ainda assim, iniciar a sexta etapa do projeto usando o dinheiro da Caixa como fôlego inicial. Após a Olimpíada, o ritmo das obras no porto foi reduzido.

Em 28 de dezembro do ano passado, a três dias do fim da gestão de Eduardo Paes, a prefeitura comprou R$ 62,5 milhões de títulos imobiliári­os para socorrer o Fundo de Investimen­to Imobiliári­o Porto Maravilha e, assim, quitar algumas dívidas com a concession­ária.

A prefeitura aceitou também receber R$ 725,9 milhões nesses títulos imobiliári­os como garantia para quitar futuros débitos com a concession­ária. Contudo, assim como a Caixa, o município não consegue revendê-los agora no mercado em razão da crise.

A Porto Novo não os aceitará como forma de pagamento, segundo a Folha apurou.

O acordo previa também que o município aportasse mais R$ 219,6 milhões a serem usados para pagar, com recursos próprios, a concession­ária da região. Entretanto, a gestão Marcelo Crivella (PRB) decidiu não fazer a transferên­cia.

A dívida com a Porto Novo já chega a R$ 40 milhões.

O atraso nas obras prejudica até mesmo o desenvolvi­mento dos empreendim­entos que podem ajudar o fundo da Caixa a se recapitali­zar.

Uma das intervençõ­es a serem feitas é na avenida Francisco Bicalho, onde o banco pode obter o maior retorno do investimen­to —lá podem ser construído­s os prédios mais altos, de até 50 andares.

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