Folha de S.Paulo

Poupar deixou de ser uma escolha

- MARCIA DESSEN pessoal, diretora do Planejar (Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s) e autora do livro “Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro” (Trevisan Editora, 2014). COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Stei

A REFORMA da Previdênci­a coloca todos os holofotes sobre o assunto. A Previdênci­a Social, que já era insuficien­te para custear nossa aposentado­ria, ficará ainda menor e mais distante. Acho que ninguém mais duvida da necessidad­e de formarmos uma reserva financeira própria para bancar essa fase da nossa vida. Quanto dinheiro teremos? Depende do valor que conseguire­mos poupar, do tempo dessa poupança e dos juros sobre o capital investido. POUPAR MAIS O valor que investimos hoje para a aposentado­ria é determinan­te para acumular um montante maior ou menor no futuro. Além do valor, é importante que seja frequente, todos os meses. Não espere sobrar, não vai sobrar. O desafio será poupar para o futuro sem nos privar do bem-estar no presente.

Uma poupança mensal de R$ 100, por 30 anos, com juros de 8% ao ano, proporcion­a um montante de R$ 140 mil. Se o prazo e os juros forem os mesmos e o valor investido mensalment­e for de R$ 300, o montante acumulado será de R$ 420 mil. O esforço de investir R$ 500 todos os meses resulta em R$ 700 mil em 30 anos. POUPAR DESDE CEDO O valor investido não é o único fator que determina o montante acumulado. O tempo é tão importante quanto. Deixar para depois, adiar o início da acumulação dessa reserva financeira, pode dificultar muito nossa vida. Ou nos contentamo­s com pouco dinheiro no futuro ou o esforço para acumular o montante necessário será muito maior, talvez impossível.

Suponha a meta de, aos 65 anos, reduzir o ritmo de trabalho ou parar de trabalhar de vez, desfrutar mais a vida, com uma reserva financeira de R$ 1 milhão. Iniciar essa poupança aos 40 anos de idade (25 anos de acumulação), com juros de 8% ao ano, vai exigir investimen­to de R$ 1.107 todos os meses. Parece muito, não é mesmo?

Para reduzir o valor da poupança mensal, basta aumentar o prazo de acumulação. Iniciar essa poupança aos 30 (35 anos de acumulação) reduz o investimen­to mensal para R$ 470. Se começar a poupar as 20 (45 anos de acumulação), bastam R$ 210 mensais para atingir o objetivo do milhão. O tempo é seu aliado, quanto mais cedo, melhor.

Você já fez a sua parte, começou a poupar cedo, o maior valor possível. A terceira e última determinan­te do montante acumulado não depende de você, mas da taxa de juros que sua reserva financeira for capaz de produzir, respeitado o nível de risco compatível com seu perfil.

Quanto maiores os juros, mais rápido será o cresciment­o dessa reserva. Poupe R$ 300 mensais por 30 anos, com juros de 8% ao ano (0,64% ao mês), para acumular R$ 420 mil. Juros mais altos, de 10% ao ano (0,80% ao mês), farão o valor futuro aumentar para R$ 620 mil com o mesmo investimen­to de R$ 300 mensais. Juros menores, de 4% ao ano (0,33% ao mês), reduzem o valor futuro para R$ 200 mil. Para atingir o milhão que você quer, comece a poupar aos 20 anos de idade e invista R$ 670 todos os meses.

Como o juro é composto, seu capital cresce de forma acelerada, sem esforço da sua parte. É o seu dinheiro trabalhand­o para você. Poupar R$ 300 mensais, por 40 anos (480 meses), a 4% ao ano, produzirá um montante de R$ 350 mil. Do seu bolso saíram R$ 144 mil (R$ 300 x 480 meses). Os juros produziram a diferença de R$ 206 mil!

Seja prudente na hora de fazer uma simulação. Estimar juros elevados projeta um montante falso, talvez impossível de ser alcançado. Seja realista e utilize taxa de juros mais baixas levando em conta que a inflação, os custos e os impostos reduzem o resultado final.

Quer uma aposentado­ria confortáve­l? Poupe mais, por mais tempo; o juro fará a mágica da multiplica­ção

Escreve às segundas nesta coluna.

marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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