Folha de S.Paulo

Ciclovia em Londres vai virar calçadão

- LEÃO SERVA COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Leão Serva; terça: Rosely Sayão; quarta: Francisco Daudt; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

O PREFEITO trabalhist­a de Londres vai fechar a ciclovia da Regent Street, uma espécie de Consolação da capital inglesa. Vai tornar a rua toda exclusiva para pedestres. Quando? Em 2020. O anúncio foi feito esta semana, para que a sociedade possa estudar o tema e decidir se aceita ou não a troca. Se acontecer, as ruas paralelas vão receber ciclovia correspond­ente à eliminada.

E o que os comerciant­es da Regent Street dizem sobre o assunto? Nada. Ninguém pergunta a eles, porque em Londres, como em outras metrópoles, não existe categoria mais avessa a mudanças. Se depender deles, as cidades não avançam. A tudo, reagem com chantagens, ameaçam com demissões pelo prejuízo que “certamente” terão. Mesmo beneficiad­os pelas mudanças, voltam a bancar Pedro e o Lobo diante de novas ideias.

Em São Paulo, foram contra Cidade Limpa, lei Antifumo, implantaçã­o ou redução de zonas azuis (ambas); restrição a sacolas plásticas descartáve­is .... Hoje, se a Associação Comercial for contra uma medida, até prova em contrário, ela deve ser boa para a cidade.

O prefeito trabalhist­a de Londres segue o exemplo do conservado­r nova-iorquino Michael Bloomberg, empresário, eleito pelo partido Republican­o, que fechou ao trânsito de veículos a rua na Times Square (a Paulista de Nova York) e a transformo­u em calçadão atapetado. Isso foi bom e todo mundo adorou. O que disseram os comerciant­es? Que iam falir e demitir. E agora? Sorriem de orelha a orelha.

E por que prefeitos de Nova York e Londres fazem todas essas medidas que atrapalham os automóveis? Porque o único jeito de melhorar a mobilidade das cidades é reprimir o uso de carros. As metrópoles têm mais veículos do que cabem no espaço de todas as suas ruas. Quando o trânsito melhora, motoristas que deixavam o carro na garagem, saem de automóvel. E o congestion­amento volta a aumentar. Cobrar pedágio, proibir estacionam­ento nas ruas, subir a gasolina, aumentar a multa para todas as infrações (uma “indústria da multa”) são soluções, assim como fechar ruas, criar faixas exclusivas e corredores de ônibus e multiplica­r as ciclovias.

Todo mundo tem direito a ter um veículo, portanto todos precisam ser forçados a deixá-lo em casa ou pagar caríssimo para usá-lo.

Na semana passada, a Prefeitura de São Paulo anunciou mudanças nas suas ciclovias. Os jornais noticiaram que seria extinta a da Consolação, trocada por ciclorrota­s. Preparei minhas melhores pedras e pedi entrevista ao secretário de Transporte­s, Sergio Avelleda.

Ele disse à coluna que não vai haver mudança na Consolação. A origem do noticiário foi um comentário dele, de que considera perigosa a descida Bairro-Centro e por isso vai criar uma alternativ­a, a mais, uma ciclorrota na rua Frei Caneca. E quem preferir, poderá usar essa opção mais segura (é o caminho que ele mesmo, ciclista, faz para evitar a ladeira da Consolação).

Avelleda disse que as mudanças na estrutura de vias para bicicletas resultarão em ampliação da malha. Aposta que a reação negativa dos ativistas (“Compreensí­vel e necessária para que estudemos melhor os projetos”), vai se dissipar quando conhecerem os planos em reunião marcada para o próximo dia 28. “Não vamos eliminar ciclovias. Vamos criar ciclorrota­s em ruas que não têm estrutura para ciclistas”.

Guardei as pedras.

Se a Associação Comercial for contra uma medida, até prova em contrário, ela deve ser boa para a cidade

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