Folha de S.Paulo

ROTINA DE ÁRBITRO

Acompanha juiz antes e Paulista; depois de semifinal do tutor, reza e horas de vídeo fazem preparação parte da

- ALEX SABINO

Sábado

Assim que entrou no vestiário do Allianz Parque, Raphael Claus, 37, foi cumpriment­ado por Roberto Perassi, 55, integrante da comissão de arbitragem da FPF (Federação Paulista de Futebol).

Abraçou os auxiliares, tomou um banho e voltou para o hotel na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

O Palmeiras havia vencido a Ponte Preta por 1 a 0 no sábado (22), resultado que levou o time de Campinas para final do Estadual. Claus reviu algumas jogadas, mas não teve tempo para os programas de debate esportivo. Foi se encontrar com a namorada, que mora em São Paulo.

Neste domingo (23), viu novamente os 90 minutos. Desinteres­sado em dribles, lançamento­s e jogadas de habilidade, assistiu às jogadas com olhos de árbitro da Fifa, como o broche que leva sempre na lapela do terno faz questão de lembrar. Posicionam­ento, direção de corrida, decisões de cartões amarelos. Era isso o que importava.

“O árbitro tem de ser próativo. Não pode ser uma figura passiva. Deve estar preparado para as situações que podem acontecer. Claro que o futebol é imprevisív­el. É o esporte em que a zebra é mais comum. Mas a arbitragem precisa estar preparada para diferentes situações”, disse ele em entrevista à Folha, esparramad­o em sofá do hotel próximo à sede da FPF.

Árbitros de ponta têm preparação de atleta profission­al.

Sábado

Acorda e toma café Chegada ao Allianz Parque Vai a campo para aquecer Conversa com tutor e reza Vai a campo e em seguida dá o apito inicial do jogo Deixa estádio rumo a hotel Chega ao hotel e descansa ex-árbitros comentando na TV. Mas muitos não conhecem as regras, inclusive jogadores, o que é pior ainda porque essa é a profissão deles”, queixou-se Claus.

Um exemplo: homens do apito do Campeonato Paulista têm “técnicos”. São chamados de tutores e acompanham os juízes a partir do momento em que são sorteados para os jogos. É iniciativa da FPF e foi implantada nesta temporada. O tutor de Claus é Roberto Perassi, que foi árbitro por 22 anos da FPF e CBF e se aposentou em 2000.

Um dia antes da semifinal, ele teve uma conversa com Claus. Ambos falaram sobre as caracterís­ticas das duas equipes semifinali­stas, como atuam taticament­e, quais são os atletas mais velozes, quem está pendurado com dois cartões amarelos, quais defesas atuam em linha, como se posicionam nas cobranças de faltas e escanteios...

Perassi preencheu a avaliação depois da semifinal e deu uma nota que ajuda a compor o ranking da arbitragem da federação paulista.

As notas são fundamenta­is porque apenas os mais bem ranqueados entram no sorteio dos jogos importante­s. E, quanto mais decisivo o confronto, maior a remuneraçã­o.

“A gente tenta prevenir o árbitro para todas as situações. Fazemos um acompanham­ento prático com imagem. Ele tem de chegar ao estádio preparado para qualquer possibilid­ade. Na época em que eu apitava, dependia apenas das minhas observaçõe­s”, afirmou Perassi. DESCANSO Claus descansou o máximo possível. No sábado, jantou com os outros integrante­s do quarteto de arbitragem da partida e foi para o quarto. Acordou no domingo por volta das 10h, no limite para tomar café da manhã do hotel. Voltou para a cama e dormiu um pouco mais.

“Quanto mais energia eu poupar, melhor”, reconhece.

Nos 90 minutos da partida, ele sabe que vai correr entre 10 e 12 km. Mais do que os zagueiros e alguns atacantes.

O árbitro não ficou isolado no mundo. Entrou na internet, leu jornais, mas se preocupou apenas com as notícias sobre Palmeiras e Ponte Preta. Pulou as análises e evitou os debates. Às 15h, começou a se preparar para a semifinal. A saída para o Allianz Parque estava marcada para as 16h.

O argumento da necessidad­e de concentraç­ão para a arbitragem é o mesmo usado para os jogadores.

“O árbitro se concentra um dia antes para já entrar no clima da partida. Se fica em casa, tem problema com filho, com a esposa, questões a resolver. Aqui [no hotel] é só o jogo”, completou Perassi.

Raphael Claus apenas se desligou do jogo (ou pelo menos tentou) ao ir jantar com a sua namorada. Lembrou-se apenas no dia seguinte, quando foi assistir de novo aos 90 minutos. Costuma ser assim. A não ser...

“Quando acontece algum erro, não dá. A gente fica remoendo aquilo por uma semana”, confessou.

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