Folha de S.Paulo

JERRY ADRIANI

Ídolo da jovem guarda, músico dividiu a carreira entre suas duas paixões: o rock e a música italiana

- ANDRÉ BARCINSKI

FOLHA

O cantor Jerry Adriani morreu às 15h30 de domingo (23), aos 70 anos, no Rio de Janeiro. Ídolo da jovem guarda, o movimento musical que revolucion­ou a cultura jovem brasileira na segunda metade da década de 1960, Jerry enfrentava um câncer e estava internado no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, no Rio.

A família não deu maiores informaçõe­s sobre o tipo de câncer de que sofria o cantor.

Em seus últimos dias, Jerry recebeu visitas e mensagens de apoio de vários colegas da época da jovem guarda, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderley Cardoso.

Nascido Jair Alves de Souza, em 29 de janeiro de 1947, no bairro do Brás, em São Paulo, era neto de calabreses e ouvia música italiana desde pequeno. Em 1964, com o nome artístico de Jerry Adriani, lançou seu primeiro LP, “Italianíss­imo”, com sucessos do pop romântico italiano. No ano seguinte, lançou seu primeiro disco com músicas em português, “Um Grande Amor”, seguido de outro LP dedicado ao pop italiano, “Credi a Me”.

Com a estreia do programa de TV “Jovem Guarda”, em agosto de 1965, na TV Record de São Paulo, um sucesso tão estrondoso que daria nome ao primeiro movimento musical brasileiro dedicado à música jovem, Jerry deixou de lado a música italiana e passou a lançar só discos em português. Tinha uma voz bonita e potente e visual de galã, com um topete rockabilly, e disputou a preferênci­a das plateias femininas com ídolos como Roberto Carlos e Ronnie Von.

Em 1965, apresentou o programa “Excelsior a Go Go” na TV Excelsior de São Paulo. Nos anos 1960, foi um dos apresentad­ores do programa “A Grande Parada”, da TV Tupi, concorrent­e do “Jovem Guarda”, um musical ao vivo.

No início dos anos 1970, seu visual emulava o de Elvis Presley, com direito até a costeletas (Jerry amava Elvis, a quem homenagear­ia num disco de 1990, “Elvis Vive”). O som havia mudado também, do pop inocente do início da Jovem Guarda para um rock mais pesado e influência­s de música soul norte-americana.

Além de cantar e apresentar programas de TV, Jerry se arriscou também no cinema. Atuou e cantou em três filmes, “Essa Gatinha É Minha” (1966) e “Jerry, A Grande Parada” (1967), ambos dirigidos por Jece Valadão, e “Em Busca do Tesouro” (1967), de Herbert Richers. Jerry era tão famoso que não interpreta­va um personagem fictício. Interpreta­va Jerry Adriani.

No fim dos anos 1960, apresentou-se na Bahia e conheceu um ótimo grupo de rock, que acabou levando para o sudeste como sua banda de apoio. Era Raulzito e os Panteras, liderado por um artista que se tornaria ídolo da música brasileira e um dos maiores amigos de Jerry: Raul Seixas.

Foi Jerry quem convenceu a gravadora CBS a empregar Raul como produtor. Raul foi produtor de Jerry entre 1969 e 1971, antes de iniciar sua própria carreira de intérprete. Jerry gravou diversas músicas de Raul, como “Tarde Demais” e “Doce Doce Amor”.

A carreira de Jerry Adriani sempre foi dividida entre suas duas paixões, o rock e a música italiana. Em 1999, ele juntou as duas no disco “Forza Sempre”, em que gravou versões de músicas de Legião Urbana em italiano. O disco foi um sucesso e vendeu cerca de 200 mil cópias. Jerry deixa três filhos, um neto, a companheir­a Ceila Passos e várias gerações de fãs.

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Jerry Adriani em 1999, em São Paulo

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