OUTRO LADO Grupo diz que não tolerará mais corrupção
Um dos advogados da Odebrecht chegou a ser indiciado sob suspeita de corromper agentes da PF.
Marcelo Navarro votou a favor da libertação de Marcelo, mas outros ministros do STJ optaram por negar o pedido de habeas corpus. Após a delação de Delcídio, ele negou que houvesse compromisso ligado a sua indicação.
A Odebrecht não conseguiu evitar a vinda da documentação suíça, e o dono da UTC, Ricardo Pessoa, tornouse de fato delator.
E, se a Lava Jato não descobriu tudo, revelou o suficiente para dobrar a Odebrecht.
O primeiro passo foi dado em setembro de 2014, quando o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fechou acordo de delação com procuradores, revelou que recebera US$ 31,5 milhões da Odebrecht na Suíça e entregou os extratos para a força-tarefa.
Foi a partir dessa movimentação financeira na Suíça que os procuradores em Curitiba descobriram contas secretas, em nome de terceiros, que a companhia usava para pagar propina.
A empresa continuou negando que as contas fossem suas e adotou um discurso agressivo contra procuradores, delegados da PF e o juiz Sergio Moro, a quem acusava de arbitrariedade e violações da lei.
Os ataques, em vez de intimidar os investigadores, serviram para elevar a voltagem contra a Odebrecht.
A operação que nocauteou a empresa, em fevereiro de 2016, tinha um nome que soava brincalhão (Acarajé, como sinônimo de propina), mas teve o efeito de um tiro de fuzil na testa.
Uma das funcionárias investigadas, a secretária Maria Lúcia Tavares, revelou à força-tarefa que trabalhava num setor responsável por pagar propina e, por descuido da Odebrecht, decidiu fazer um acordo de delação.
A empresa contratara a equipe de advogados mais cara da Lava Jato, mas deixara uma secretária se sentir à deriva após ser presa em Curitiba. Foi a batalha de Waterloo da companhia. Assim como Napoleão perdeu o título de imperador com a derrota, o grupo perdeu o porte de império com essa delação.
Foi a partir da decisão de Maria Lúcia que Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração do grupo, decidiu fazer o acordo de delação. A avaliação era que a insistência em negar o que os investigadores já sabiam podia levá-los à bancarrota.
Com as descobertas da Lava Jato, a maior empreiteira do país, que faturou R$ 132 bilhões em 2015, já não conseguia crédito em bancos.
Sem novos negócios, o número de funcionários caiu de 180 mil antes da operação para 80 mil neste mês.
A dívida bruta do grupo, de cerca de R$ 80 bilhões, está em níveis perigosos para quem terá de pagar uma multa de US$ 2,6 bilhões só para três países (Brasil, Estados Unidos e Suíça). É a maior multa em acordos do gênero já cobrada no mundo
A grande dúvida que paira entre executivos da Odebrecht é se a companhia conseguirá suplantar o dano causado à reputação da empresa pelos escândalos de corrupção a que foi ligada.
O sonho de consumo da Odebrecht é que o grupo siga o caminho da Siemens, o maior grupo industrial europeu. Em 2006, a empresa foi apanhada pagando propina em escala global e, dois anos depois, fez um acordo pelo qual teve de pagar multas de US$ 1,3 bilhão.
A Siemens implantou um sistema de conformidade ética que se tornou padrão mundial, deu a volta por cima e hoje fatura mais do que quando as autoridades descobriram os subornos.
Se o plano de ser uma Siemens fracassar, o que é dito em voz baixa na empresa é que há um culpado óbvio: Marcelo Odebrecht e sua estratégia de negar o que procuradores e policiais já sabiam e de que, em alguns casos, tinham provas.
DE SÃO PAULO
Em nota, a Odebrecht afirmou que “já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.
Disse ainda que entende ser de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos por ex-executivos e executivos em seus depoimentos e que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos demais países em que atua.
A Odebrecht diz que, após o fechamento do acordo de leniência no Brasil, nos EUA e na Suíça, “está concentrada no retorno às suas atividades normais com acesso a crédito, credenciamento para participação em novas concorrências e possibilidade de oferta de empregos”, e que o grupo “continua avançando positivamente” na reestruturação de negócios.