“Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa dois.” Preso em Curitiba, Marcelo Odebrecht, ex-presidente e
herdeiro do grupo, resumiu nesta frase o impacto que as delações de 78 executivos da empreiteira terão sobre o Palácio do Planalto, o Congresso e as eleições de 2018.
Sob pressão da crise política agravada com a publicidade dos depoimentos, Michel Temer ofereceu ao Congresso o discurso de que a pauta econômica será a tábua de salvação de seu governo e de parlamentares atingidos em cheio pelas investigações.
O cálculo é simples: Temer sabe que a melhora da economia é o que dará viabilidade a seu mandato mas, em dependência quase química com o Legislativo, precisa que deputados e senadores sejam, por ora, mais inteligentes do que afoitos e votem as reformas antes de medidas que possam vir a garantir a sobrevivência da classe política no ano que vem.
A tese de Temer é que as reformas trabalhista e da Previdência impulsionarão os índices econômicos, o que vai melhorar o humor da opinião pública e, somente depois disso, será possível mudar o foco da pauta legislativa.
Para o presidente, essa é a receita perfeita para que seu governo se equilibre até 2018 e parlamentares consigam se reeleger, mantendo a prerrogativa de foro privilegiado, fundamental para os 24 senadores e os 39 deputados sob investigação do Supremo. RESSONÂNCIA No Congresso, o discurso reverberou. Parlamentares têm repetido que hoje não há clima para a votação de medidas que salvem a pele dos políticos antes de a economia apresentar alguma melhora e que a aprovação da anistia ABUSO DE AUTORIDADE Há quem defenda, contudo, que é possível votar as reformas de Temer ao mesmo tempo que medidas para limitar a atuação do Judiciário —um exemplo é o projeto de abuso de autoridade.
A partir disso, a estratégia seria investir em uma reforma política que garanta a sobrevida dos políticos na próxima eleição.
Em encontro com aliados no Palácio da Alvorada, Temer ouviu que a crise gerava sacrifícios apenas para a classe política e que era preciso responder à altura.
O presidente mudou o discurso adotado desde a divulgação das delações e, sem citar a Lava Jato, disse que é preciso “resistir” e não se intimidar.
Foi um aceno para que parlamentares continuem os trabalhos,