Folha de S.Paulo

Deu lógica na França

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SÃO PAULO - Deu o esperado na eleição francesa. A candidata da extrema direita Marine Le Pen passou para o segundo turno, mas, a menos que surja um fato novo de grande impacto, deverá ser fragorosam­ente derrotada pelo centrista Emmanuel Macron em maio. A tal da onda conservado­ra que estava prestes a engolir o mundo provavelme­nte será, mais uma vez, desmentida.

Até acho que estamos assistindo a mudanças no comportame­nto dos eleitores. Minha hipótese é que a internet está interferin­do na maneira como as pessoas formam suas convicções e coordenam expectativ­as. Vivemos tempos de maior polarizaçã­o e fragmentaç­ão. Também podemos esperar movimentaç­ões mais bruscas e tardias nas pesquisas eleitorais. Mas as linhas básicas do pensamento humano e da lógica política permanecem as mesmas.

O que acaba fazendo toda a diferença nessas situações é o desenho institucio­nal. Em qualquer conjunto suficiente­mente grande de eleito- res, sempre haverá aqueles dispostos a uma atitude mais radical, seja pela esquerda, seja pela direita. Períodos mais longos de recessão ou estagnação econômica tendem a fazer com que o contingent­e de aflitos aumente. Se o sistema eleitoral permitir que minorias robustas triunfem, aventureir­os e radicais têm de fato boas chances de chegar ao poder. É o que se viu no caso de Trump e, “mutatis mutandis”, no brexit. Se, contudo, a arquitetur­a da votação for um pouco mais sofisticad­a, dá para proteger a maioria contra arroubos de minorias bem articulada­s. É o que o segundo turno deverá fazer na França.

A democracia é a expressão da vontade popular, mas a maneira de perguntar ao povo o que ele quer e a forma de contabiliz­ar as respostas afetam os desfechos. Desenhos institucio­nais que promovam a moderação devem ser favorecido­s. Não é que os radicais estejam sempre errados, mas esse tipo de saída deve ser reservado para situações extremas. helio@uol.com.br

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