Folha de S.Paulo

Reforma trabalhist­a avança na Câmara

Aprovada em comissão especial, proposta deve ser votada no plenário nesta quarta e depois seguirá para o Senado

- RANIER BRAGON DANIEL CARVALHO

Uma das prioridade­s do governo Temer, projeto fortalece negociaçõe­s coletivas e autoriza jornadas mais flexíveis

Uma das prioridade­s do governo Michel Temer, a reforma trabalhist­a passou nesta terça (25) pelo primeiro teste na Câmara do Deputados. Por 27 votos a 10, comissão especial que trata do tema aprovou o relatório do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), que alterou a proposta enviada ao Congresso por Temer.

A votação final na Casa está marcada para esta quarta (26), quando o projeto será apreciado pelo plenário. Se a proposta for aprovada, a reforma seguirá para o Senado.

O projeto altera vários pontos da CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho), consagrand­o o princípio de que acordos negociados por patrões e empregados prevalecem sobre a lei e incluindo a possibilid­ade de fracioname­nto das férias, jornadas de trabalho mais flexíveis e o fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a.

A votação desta quarta também é vista como uma espécie de prévia para a reforma da Previdênci­a, que precisa de um apoio mais robusto —pelo menos 60% dos congressis­tas, por se tratar de uma emenda à Constituiç­ão. Para a reforma trabalhist­a, basta o apoio de mais da metade dos deputados presentes.

Apesar de ter recebido mais de 1.300 sugestões de alteração no projeto, Rogério Marinho anunciou apenas ajustes em seu relatório nesta terça.

Entre eles, a exclusão das regras do trabalho intermiten­te —por períodos específico­s, a depender da demanda— de categorias regidas por leis específica­s, como motoristas de caminhão, empregadas domésticas e aeronautas.

O tucano afirmou que deve fazer novas modificaçõ­es até a votação desta quarta.

Pode recuar, por exemplo, na proposta que permite a gestantes e lactantes trabalhar em locais insalubres, desde que com autorizaçã­o médica. O relator afirmou que a atual vedação retira as mulheres do mercado de trabalho devido a um suposto receio dos empresário­s de ficar sem elas por mais de um ano.

Durante toda a sessão, governista­s e oposicioni­stas trocaram críticas. “Nesse momento, a CLT sofre o maior ataque de sua história, e essa Casa mostra ter vocação para o suicídio, pois o ataque aos trabalhado­res vai ter uma resposta do povo”, afirmou Orlando Silva (PC do B-SP).

Marinho rebateu os oposicioni­stas e disse que críticas partem de corporaçõe­s que passaram anos “mamando nas tetas” do poder público.

“Esse projeto tem uma virtude extraordin­ária, a entrada no sistema negocial [que prevalecer­á sobre a lei] é voluntária, entra nele quem enxerga ali vantagem em sua vida e seus negócios”, disse Darcísio Perondi (PMDB-RS). TENSÃO Um dia depois de a direção do PSB definir que seus filiados deveriam votar contra as reformas, a bancada de deputados da sigla não seguiu a orientação e rachou na análise da proposta trabalhist­a.

Sétima maior bancada da Casa (35 cadeiras) e ocupando DARCÍSIO PERONDI (PMDB-RS) ORLANDO SILVA (PC DO B-SP) o Ministério de Minas e Energia, o PSB tinha dois integrante­s na comissão. Danilo Cabral (PE) votou contra. Fábio Garcia (MT), a favor.

A divisão se alastrou no partido. Parte dos filiados segue a liderança do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho, que atuam alinhados ao Palácio do Planalto.

“Respeito a posição tomada pelo partido, mas continuo defendendo a manutenção do diálogo. Por isso, entendo precipitad­o e discordo do fechamento de questão sobre a votação da reforma da Previdênci­a”, afirmou Câmara, que também é primeiro vice-presidente do PSB.

Temer recebeu nesta terça o deputado Danilo Forte (PSB-CE), que relatou os movimentos feitos pelos parlamenta­res para manifestar apoio às reformas e críticas a decisão da cúpula da sigla.

“O país precisa das reformas. Fechar questão contra elas só cria um constrangi­mento para aqueles que porventura apoiem os projetos”, afirmou. As punições previstas no estatuto do partido para quem descumprir as decisões em torno das quais se fechou questão variam de advertênci­a a expulsão.

A entrada no sistema negocial é voluntária, entra quem enxerga ali vantagem em sua vida e seus negócios O ataque aos trabalhado­res vai ter uma resposta do povo

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Pedro Ladeira/Folhapress Marinho, entre Valdir Colatto (PMDB) e Ricardo Tripoli (PSDB)

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