Folha de S.Paulo

MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS

- FERNANDA MENA

DE SÃO PAULO

Espaço de reflexão social, o documentár­io se presta a apresentar questões de ontem e de hoje, elaboradas, se possível, a partir de relatos em primeira pessoa.

É o que a diretora Sandra Werneck (“Cazuza, o Tempo Não Para” e “Meninas”) faz com um tema transversa­l na história, mas que só ganhou relevo e urgência no debate contemporâ­neo.

“Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas” adota como título o slogan das ruas e a hashtag das redes criada pelo movimento feminista e, com ele, aborda a violência contra a mulher nas suas mais variadas formas a partir da voz de suas vítimas.

Com depoimento­s de mulheres conhecidas e anônimas, ricas e pobres, brancas e negras que compartilh­am histórias de agressões, de medo e de culpa, o filme expõe o controle, a ameaça e a violência psicológic­a, revela o abuso sexual infantil e o estupro, mesmo dentro do casamento, denuncia o espancamen­to, o tiro e a morte.

O longa traz dois casos de mulheres que emprestara­m seus nomes a leis criadas para proteger vítimas deste tipo de violência: a farmacêuti­ca cearense Maria da Penha e a nadadora pernambuca­na Joanna Maranhão.

A primeira, condenada à cadeira de rodas após levar um tiro nas costas do próprio marido, que mesmo condenado seguia em liberdade, deu origem à lei criada para aumentar o rigor das penas para crimes de violência doméstica e criar mecanismos de proteção da mulher.

Já a atleta Joanna Maranhão conta ter sido abusada sistematic­amente por seu treinador ainda criança. Quando reuniu clareza sobre o ocorrido e coragem para buscar reparação, o crime já havia prescrito, portanto, não havia possibilid­ade de punição.

A lei que leva seu nome faz com que o prazo para prescrição deste tipo de crime só comece a contar quando a vítima completar 18 anos.

A modelo Luiza Brunet e a escritora Clara Averbuck também compartilh­am suas histórias de violência e as cicatrizes que elas deixaram em suas vidas para sempre.

Foi assim com a cabeleirei­ra Alessandra, que perdeu a irmã num atropelame­nto intenciona­l que tinha ela como alvo e o ex-marido no volante. Também com a professora Aline, estuprada dentro da própria casa por um vizinho e humilhada pelo delegado de plantão.

Em comum, além da vulnerabil­idade, essas mulheres estão imersas no mesmo cenário perverso: um país onde, a cada hora, cinco mulheres são estupradas e outras 500 são agredidas fisicament­e chamado Brasil.

Ao intercalar os relatos íntimos dessas mulheres com cenas das recentes manifestaç­ões feministas que tomaram as ruas do país com cartazes e palavras de ordem, “Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas” joga luz numa questão social há muito encoberta e desassisti­da que, amparada na força do grupo, parece não querer mais calar.

Com isso, mapeia parte do processo de transforma­ção de um tabu em grito de guerra. DIREÇÃO Sandra Werneck PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos QUANDO hoje, às 21h, e em 28/4, às 15h, ambas no Cinearte (SP) AVALIAÇÃO bom

‘A Batalha de Florange’

Documentár­io mostra trabalhado­res valendose de todas as formas de resistênci­a e de luta para salvar a siderúrgic­a indianobri­tânica Arcelor-Mittal, em Florange (França), entre os anos de 2012 e 2013.

CCSP, rua Vergueiro, 1.000, às 19h

Onde ‘Tudo é Irrelevant­e. Helio Jaguaribe’

Reavalia o legado de Helio Jaguaribe, 94, cientista político que participou da elaboração da identidade brasileira e que sonhou com o estabeleci­mento de uma sociedade mais justa e igualitári­a

Reserva Cultural, av. Paulista, 900, às 22h

Onde ‘No Tempo que Chegará’

Em Singapura, a cineasta Tan Pin Pin acompanha a preparação de uma cápsula do tempo com objetos representa­tivos desta era para o futuro. Ao mesmo tempo, processa-se a abertura de uma antiga cápsula

Cinearte, av. Paulista, 2.073, às 19h

Onde

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