Folha de S.Paulo

A reforma de cada um

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BRASÍLIA - Na sala do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, há televisore­s conectados à Bloomberg que ficam constantem­ente exibindo os indicadore­s do mercado. Nesta semana, o ministro está em outro canal, o Congresso Nacional.

Para fora, Meirelles exibe seu habitual otimismo. Nos bastidores, ele manifesta preocupaçã­o. Das últimas sessões da Câmara dos Deputados, o ministro recebeu um péssimo sinal.

Os deputados detonaram um dos pilares do acordo de renegociaç­ão da dívida dos Estados que a equipe econômica gastou mais de um mês acertando com os governador­es.

A Câmara votou pelo fim do aumento da contribuiç­ão previdenci­ária, uma das medidas impostas pela Fazenda como forma de aumentar as receitas e garantir o pagamento das parcelas da renegociaç­ão.

Sem contrapart­idas, a equipe econômica não senta para fechar o acordo, caso o projeto passe desse jeito pelo Congresso. A esperança é de que a derrota seja revertida.

No radar de pessoas que são “olhos e ouvidos” de Meirelles no Congresso ainda existe a previsão de que o governo ceda ao que chamam de “pacote de maldades” em favor dos congressis­tas. Nele estão projetos como o de abuso de autoridade e o de anistia ao caixa dois.

Em troca, os parlamenta­res teriam de aprovar as reformas do governo com o mínimo de mudanças. Meirelles apresentou as propostas com a esperança de que o presidente Michel Temer tivesse força para passálas dessa forma no Congresso.

O ministro não contava que, no limite, o governo pudesse ceder tanto. Na reforma previdenci­ária, as concessões já chegaram ao limite e as negociaçõe­s nem sequer estão no Senado. Analistas já falam na necessidad­e de uma nova reforma em uma década.

Meirelles quer boas reformas. Temer quer as reformas. Essa diferença ficou clara para o ministro depois de uma reunião recente com o presidente. E é essa diferença que marcará o destino político de cada um.

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