Folha de S.Paulo

Estado Multi Solution

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SÃO PAULO - A licitação da publicidad­e do Banco do Brasil é um tapa na cara de qualquer um que espere bom senso dos que lidam com dinheiro público. Com o resultado adiantado à Folha, a maior concorrênc­ia deste governo serviu para mostrar que certas coisas são imutáveis.

Uma dessas coisas é a cara de pau. Um episódio assim no meio das delações só não causa mais espanto porque o encavalame­nto de rolos está longe de ser incomum. No mesmo dia da revelação, o STF discutia como acusados na Lava Jato mantiveram esquemas ao mesmo tempo em que eram julgados no mensalão.

Outra dessas coisas imutáveis é a convicção de que dinheiro na mão do Estado tende a ser alocado de maneira menos eficiente do que em mãos privadas —o saldo negativo para a sociedade pode ser resultado tanto de gestão frouxa como de corrupção.

Só que, para cada problema, a solução que aparece aumenta o papel do Estado na questão. As últimas semanas são generosas em exemplos:

1) Delações destampam o submundo da relação entre empreiteir­as e políticos? A proposta que avança é a que retira as empresas da equação e engorda a artéria de dinheiro público a irrigar as campanhas.

2) O governo tem problemas para fechar suas contas? A saída é aumentar a transferên­cia de dinheiro do setor privado para Brasília.

3) Uma nova tecnologia desmonta os feudos dos taxistas e melhora a vida de quem precisa se locomover? Pois logo vem o Estado a criar mais regras (os códigos legais não bastavam?) e, claro, uma nova taxa.

O caso desta semana é ilustrativ­o também sob outro prisma. O Banco do Brasil não é a maior instituiçã­o financeira do país. Ainda assim, tanto ele quanto a Caixa aparecem seguidamen­te à frente dos concorrent­es privados nos rankings de anunciante­s. Foi na publicidad­e do BB, vale lembrar, que o mensalão apoiou uma de suas pernas. O colo da Viúva é sempre o mais largo de todos. roberto.dias@grupofolha.com.br

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