Folha de S.Paulo

Gilmar diz que PF não pode interrogar Aécio com ‘surpresas’

Ministro do STF adia interrogat­ório do senador em inquérito sobre a suspeita de propina em Furnas

- MARIO CESAR CARVALHO

Magistrado determina que a defesa do tucano tenha acesso a todas as provas antes de ele ser ouvido em depoimento

O senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), tem o direito de conhecer tudo o que delatores disseram sobre ele antes de ser interrogad­o pela Polícia Federal.

Essa é a essência de decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, ao determinar o adiamento por pelo menos 48 horas de um depoimento do senador que deveria ocorrer nesta quarta (26), em inquérito que apura suspeitas de corrupção em Furnas.

A Polícia Federal argumentar­a à defesa de Aécio que não poderia liberar os depoimento­s dos delatores porque se tratava de de uma investigaç­ão em curso. Mendes disse em decisão nesta terça (25) que a alegação da PF não tem fundamento legal.

“O argumento da diligência em andamento não autoriza a ocultação de provas para surpreende­r o investigad­o em seu interrogat­ório”, escreveu o ministro. Para ele, “a diligência em andamento que pode autorizar a negativa de acesso aos autos é apenas a colheita de provas, cujo sigilo é imprescind­ível”.

Mendes afirmou que a questão nem é controvers­a, já que há uma súmula vinculante do Supremo sobre essa questão, a de número 14, editada em 2009.

Súmula vinculante é uma decisão do Supremo que obriga todos os níveis da Justiça a seguir um certo entendimen­to em casos similares do ponto de vista judicial.

A súmula 14 diz que o advogado tem o direito de ter acesso ao conjunto de provas sobre o seu cliente.

O advogado de Aécio, Alberto Zacharias Toron, diz que a decisão do Supremo não tem caráter protelatór­io: “O senador tem se colocado à disposição das autoridade­s para prestar todos os esclarecim­entos necessário­s a provar a absoluta correção de todos os seu atos”, disse.

O ministro do Supremo tomou a decisão de acesso a todas as provas no inquérito que investiga a suspeita de que Aécio seria um dos beneficiár­ios do esquema de corrupção em Furnas.

Dois delatores da empreiteir­a Odebrecht, na Operação Lava Jato, disseram que o tucano recebia recursos ilícitos por indicar políticos para a diretoria da empresa: o ex-senador Delcídio do Amaral e o ex-doleiro Alberto Youssef.

Marcelo Odebrecht disse que deu R$ 50 milhões ao grupo de Aécio por sua influência em Furnas e na Cemig.

O senador nega e refuta ter recebido recursos ilegais.

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Pedro Ladeira/Folhapress O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), alvo de inquérito sobre Furnas

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