Folha de S.Paulo

Turquia manda prender 3.224 pessoas

Detidos teriam relação com o clérigo Fethullah Gülen, que Erdogan acusa de orquestrar uma tentativa de golpe

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Medida ocorre dez dias após plebiscito que ampliou poderes do presidente; oposição irá a tribunal europeu

A Turquia emitiu nesta quarta-feira (26) ordens de prisão contra 3.224 pessoas, das quais cerca de mil já foram detidas, sob suspeita de ligação com o clérigo dissidente Fethullah Gülen.

O governo turco o acusa de ter orquestrad­o uma tentativa de golpe contra o presidente Recep Tayyip Erdogan em julho de 2016 —o religioso, que vive nos EUA, nega.

As prisões em massa atingem integrante­s de forças policiais e acontecem pouco mais de uma semana após um plebiscito fortalecer os poderes de Erdogan e no mesmo dia em que o principal partido de oposição anunciou que irá contestar o resultado da votação em um tribunal europeu.

As detenções aprofundam o expurgo realizado pelo governo desde a tentativa de golpe. Nos últimos meses, a Turquia prendeu ao menos 46 mil pessoas e exonerou 130 mil servidores. O país está em estado de emergência.

Segundo a agência de notícias estatal Anadolu, 8.500 agentes de segurança participam da operação nesta quarta, em 81 províncias.

O alvo, de acordo com o ministério do Interior, foram opositores infiltrado­s na força policial do país.

Além dos presos, 9.000 foram temporaria­mente afastados

SÜLEYMAN SOYLU

ministro do Interior

É uma medida importante no interesse do Estado da República da Turquia

MANFRED WEBER

deputado europeu

É hora de reavaliar o relacionam­ento com a Turquia. Temos que pôr fim a essa hipocrisia

enquanto se investiga possíveis laços com Gülen.

“É uma medida importante no interesse do Estado da República da Turquia”, disse o ministro do Interior, Süleyman Soylu. As medidas provocaram uma onda de indignação entre ONGs e países europeus, que denunciam uma repressão contra os círculos pró-curdos e a imprensa. OPOSIÇÃO Principal legenda da oposição, o Partido Partido Republican­o do Povo (CHP) anunciou nesta quarta-feira que irá ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos para questionar a aceitação, em cima da hora, de cédulas não timbradas no plebiscito que ampliou os poderes presidenci­ais.

Na votação, ocorrida em 16 de abril, a campanha pelo “sim” obteve vitória apertada com 51% dos votos.

Nesta terça, o Conselho de Estado turco rejeitou pedido de mesmo teor. O vice-presidente do CHP, Bulent Tezcan, disse que a decisão do colegiado havia sido “injusta” e acrescento­u que não impedirá que o movimento prossiga com seu “combate judicial”.

Tezcan mencionou “várias opções possíveis (...), incluindo petições individuai­s à Corte Constituci­onal”, segundo a Anadolu.

Após a votação, uma missão conjunta de observador­es da Organizaçã­o para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e do Conselho da Europa já havia considerad­o que o plebiscito não tinha cumprido os critérios europeus. O grupo ressaltou que a campanha havia sido realizada de forma desigual, benefician­do o campo do “sim”.

O plebiscito deu aval à transforma­ção do sistema de governo da Turquia de parlamenta­r para presidenci­al. Com isso, o cargo de primeiro-ministro será abolido em 2019. Na prática, Erdogan poderá nomear e exonerar ministros e juízes. O Parlamento perderá o poder de fiscalizar o gabinete presidenci­al.

Citando o plebiscito, parlamenta­res da União Europeia pediram nesta quartafeir­a a suspensão formal das conversas sobre a filiação da Turquia ao bloco.

“É hora de reavaliar nossos relacionam­ento com a Turquia. A filiação plena não é algo realista. Precisamos pôr fim a essa hipocrisia”, disse Manfred Weber, líder da maior facção da legislatur­a da UE, o Partido Popular Europeu, de centro-direita.

 ?? Olay Duzgun/DHA ?? Presos em fila na Turquia nesta quarta; ordens de detenção atingiram 3.224 pessoas acusadas de ligação com o clérigo dissidente Fethullah Gülen
Olay Duzgun/DHA Presos em fila na Turquia nesta quarta; ordens de detenção atingiram 3.224 pessoas acusadas de ligação com o clérigo dissidente Fethullah Gülen

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